No toque da arte
19/11/2012 08:11

Com o objetivo de aguçar a percepção de deficientes visuais para o universo das artes, o professor Adriano Ferraioli desenvolve há algumas semanas, no Instituto Federal Fluminense (IFF) campus Campos-centro, o projeto de extensão “A xilogravura na construção de experiências sensoriais”. O foco é colocar a mão na massa, sem a necessidade de intermediários. O trabalho é realizado com a Pró-reitoria de Extensão e o Núcleo de Apoio a Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais (Napnee).


Com 10 alunos e 3 bolsistas, todos com algum tipo de deficiência visual, o professor disse que conseguiu um resultado surpreendente com o ensino da xilogravura, tanto que já pensa em realizar uma exposição no próximo mês no IFF, colocando os visitantes da mostra na mesma condição dos artistas, ou seja, com olhos vendados para estimular sua sensação de modo semelhante a dos deficientes visuais. Adriano explicou como realiza o trabalho:


— A xilogravura é uma especialidade da gravura, onde se usa a madeira como matriz, utilizando a ferramenta Goiva para escavar sulcos na superfície da madeira. A partir da matriz pronta, ‘entinta-se’ a mesma e a coloca em uma prensa com papel, no qual a gravura será impressa -, apontou, acrescentando que “ao criar a matriz, faz-se sulcos na superfície da madeira, que são perceptíveis pelo tato dos deficientes visuais. Assim como de maneira contrária, a cola cria um relevo também perceptível pelo tato. E a outra forma está sendo forrar uma prancheta com tela de mosqueteiro e desenhar num papel em cima com um giz de cera, assim, o desenho fica com um relevo perceptível”.


Adriano ressaltou que deste modo a impressão sempre será o negativo da matriz, ou seja, ao contrário. Ele também revelou que podem ser retiradas infinitas cópias de uma mesma matriz. Comumente os artistas realizam uma tiragem de no máximo 300 cópias originais, para não desvalorizar as mesmas.


Muito além das técnicas ensinadas aos estudantes, o fator preponderante é a questão da acessibilidade, não apenas motora, mas também um acesso que abarca a cultura visual, a arte e a cultura. “Não é nosso objetivo descobrir ou gerar artistas plásticos, mas sim contribuir na melhoria da qualidade de vida destes cidadãos pela Arte”, pontuou.


Com graduação em Belas Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestrado em Cognição e Linguagem pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), Adriano Ferraioli pensa em desenvolver o tema do projeto em alguma linha de pesquisa no doutorado.


História - Não se sabe ao certo quando a xilogravura começou a ser praticada, nem quem foi o seu inventor. A xilogravura em papel mais antiga, dentre as que se conhecem, ilustra um exemplar da oração budista Sutra Diamante, editada por Wang Chieh, na China, no ano 868. Acredita-se, porém, que a xilogravura do Extremo Oriente já estampasse tecidos séculos antes, talvez inicialmente na Índia.


Na Europa, o testemunho mais remoto é um tecido impresso no século doze. Há, porém, quem afirme que a estamparia europeia de tecidos exista desde o século sexto. Nos séculos XIV e XV, os europeus utilizaram intensamente a xilogravura para produzir imagens sacras (santinhos) e cartas de baralho.

Talita Barros

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