Cidadão do Mundo
lucianaportinho 25/10/2012 21:30
CIDADÃO DO MUNDO LUCIANA PORTINHO Em um espaço não maior do que 6x7 metros, ou seja, algo como 42 metros quadrados podem conter um universo inteiro quando o assunto é arte. Assim é a exposição do artista plástico cubano Francisco Rivero, no Espaço Raul Linhares, no IFF Campus Campos – Centro. O nome da exposição é “As Mãos”. Por elas, Francisco Rivera se expressa e apresenta suas criações em Campos. A exposição que foi instalada no dia 15 de outubro, dia do professor, segue aberta à visitação até o dia nove de novembro, sempre das 10 às 20h. [caption id="attachment_5075" align="aligncenter" width="600" caption="Ft.Luciana Portinho"][/caption]

 

Nascido no ano de 1951, em Havana, Cuba, Francisco é um artista plástico, pintor, ilustrador graduado pelo Instituto Superior de Desenho. Provocado, ele se põe a pensar nas mudanças que viveu como criança em seu país natal, implantadas pelo movimento revolucionário. — Apesar da pouca idade vivi o processo de câmbio revolucionário. Como jovem cursei o Instituto Pedagógico, anexo à Universidade de Havana. Corriam os anos de 1965 e 1966, era como todas as demais escolas cu-banas, de tempo integral. Esta, em particular tinha uma proposta experimental, que era de criar vínculos entre o estudo e o trabalho. Sob o arcabouço pedagógico de Paulo Freire e dos ensinamentos de José Martí, tínhamos pela manhã classes fundamentais e na parte da tarde estudávamos música, artes, fundamentos de economia doméstica, de produção industrial, carpintaria e mecânica. Mesmo sendo uma escola urbana aprendíamos produção agrícola, plantando o que consumíamos nas refeições. Era mesmo extraordinário — reflete o artista. Francisco transborda sua curiosidade, segundo ele, 100% artística. Ao tratar daquilo que sempre é indagado a quem cria, ele nos fala de uma inspiração relacionada ao modo mutante que estabelece com o cotidiano. Como a um filósofo grego, se coloca interrogações constantes, fruto do que ele chama de “uma necessidade imperiosa de ser atento a tudo, de dialogar com o outro ao propor pontes visíveis e invisíveis de comunicação”. Foi através de seu vínculo posterior com o design gráfico, em a Casa Editora, (editora de política, línguas estrangeiras e cubana) que ainda em Havana, por ocasião do bicentenário da Revolução Francesa — ano de 1989 — surgiu para Francisco o convite de expor fora de seu país, oportunidades que depois se repetiram. “Criei um trabalho sobre as Antilhas que para mim ainda serão referências futuras. Lá habitam cruzas múltiplas sem perda de identidade, mestiçagens entre entes e mulheres diversas. Estas conseguiram manter suas identidades escravas, apesar da forte presença maçônica. Elaborei um livro único, triangular, com os três lados simbolizando a igualdade, a liberdade e a fraternidade, feito em papel do bagaço da cana de açúcar. Foi a representação da Revolução Francesa e de sua interferência nas Antilhas”, disse. Dono de uma pintura e de um trabalho, em variadas técnicas de artes visuais, ele se expressa em cores vivas, é notável a presença de suas raízes caribenhas. Seja na gravura, serigrafia, pintura e até nas instalações e performances, o artista brinca ao interagir com o público e com os mais diferentes materiais, como na presente exposição ao trazer a pipa. “Sou maravilhado com as pipas, é um trabalho manual que se perde. Elas traduzem o desejo do homem de voar, de se projetar, é um delicado luxo”, frisa ele. Desde 1991, o artista que afirma satisfeito “Vivo de minha arte”, saiu de Cuba, não fugido como faz questão de esclarecer, mas, em busca de públicos para sua arte através de exposições na França, Lituânia, Espanha, Itália, Andorra, Coréia do Sul, Macedônia, Finlândia, Bélgica, Suécia e hoje no Brasil, onde, ao se casar com uma campista, mantém uma de suas três residências, as outras em Paris e Havana. Campus do IFF pode ganhar centro de artes O Espaço Cultural Raul Linhares, do Instituto Federal Fluminense — IFF Campus- Centro —, foi criado há dois anos como um único objeto: arte. É um espaço ligado à coordenação de Arte e Cultura e tem na coordenação da curadoria educativa a professora Márcia Rangel. É dela a iniciativa da presente exposição. Márcia tem bem clara a noção de que o espaço, ainda que pequeno, funciona como que uma provocação aos alunos que frequentam o IFF como uma visão técnica. — Contamos com total apoio do diretor geral do campus-centro, o professor Jefferson Manhães de Azevedo. Tanto é o apoio que a comunidade acadêmica vai ganhar um centro de artes. Este será voltado para a Avenida 28 de Março e lá teremos oficinas, salas de aula, estúdio e um mini auditório. Já fomos informados de que se encontra em fase de licitação! — disse a professora. Para uma instituição de ensino do porte do IFF Campos, de formação pública de longo tempo e voltada ao ensino tecnológico desde o início, é animador ouvir que a arte tem valor reconhecido e terá seu espaço garantido. — Sabemos que fruir da arte amplia a nossa visão infinita do mundo, no sentido das nossas possibilidades — finaliza a professora. * capa da Folha Dois, de hoje, quinta-feira (25 de outubro).

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