"E SE TODOS VIVÊSSEMOS JUNTOS?"
LUCIANA PORTINHO
Longa francês produzido em 2010, de Stéphane Robelin (Et si on vivait tous ensemble?). De modo otimista, enfoca a reta final na vida de cinco amigos, sem nenhum problema financeiro aparente, de uma pequena cidade francesa. Em comum e ao seu modo, cada um deles afasta o figurino das perspectivas empobrecedoras com o qual a sociedade tenta lhe enfiar pela cabeça no presente. Decidem, em nome de suas dignas histórias particulares, encarar a perecibilidade e resistir. Sentindo-se postos meio de escanteio pela sociedade e respectivas famílias, o grupo (dois casais e um viúvo), são melhores amigos por mais de quatro décadas. Enfrentando problemas semelhantes, esquecimentos, desejos, sonhos realizados e a realizar, resolvem, não sem diferenças, celebrar o quê - para cada um e para todos - têm em comum: a vontade de usufruir daquilo que o presente ainda oferece de bom.
[caption id="attachment_5060" align="aligncenter" width="600" caption="Ft. Google"]
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Claude um tremendo solteirão convicto apaixonado pelas mulheres se descobre com problemas cardíacos. Jean um revolucionário romântico é casado com Annie (Geraldine Chaplin) que se ressente do afastamento dos netos. Jeanne (Jane Fonda) é uma feminista, ela sabe estar gravemente doente. Casada com Albert que cada vez mais apresenta problemas de memória ela decide não comunicar sua morte eminente ao companheiro, para poupá-lo da ansiedade do sofrimento futuro. Com uma visão poética da vida, Jeanne uma setuagenária resolvida, escolhe com requinte de humor os detalhes do cenário para o seu funeral personalizado. Quando o filho de Claude decide pô-lo num asilo, os cinco amigos optam por uma experiência comunitária, vão morar juntos em uma mesma casa, como em uma comunidade hippie. A eles se junta ainda o jovem etnólogo alemão Dirk (Daniel Brüh,
Adeus, Lênin) que estuda o envelhecimento da população francesa, ou seja, dos próprios.
Interessante que cada qual mantenha sua chama interior preservada, partilham algumas identidades no gosto e na postura frente à existência, expressam alegria de estar na companhia uns dos outros.
É uma comédia romântica, que apresenta como possível a manutenção de uma vida viva em idade avançada desde que preservados sejam o sonho, a amizade e a sutileza no cuidado ao lidar com as mazelas do outro, exatamente como gostaríamos que cuidassem das nossas.
Um filme suave. Dele, a plateia sai da sala de projeção de algum modo bem, disposta para enfrentar os males da velhice como a um desafio de jovem.
* publicado na Folha Dois, sábado (20/10).