O Leito Vazio
mabamestrado 04/09/2012 09:14
Neste último final de semana constatamos a carência (e talvez a demência) que impregna o sistema administrativo-médico de nossa “formosa e intrépida” Campos dos Goytacazes. Uma pessoa muito querida (e próxima), cuja identidade não revelaremos para não trazer mais sofrimento aos amigos familiares (mas de amplo conhecimento), no último sábado começou a passar mal por volta de 11h00min, sendo socorrido para a U.P.A, este nosso bonito complexo de atendimento médico para pequenas emergências que fica ao lado do Batalhão do Exército. O nosso amigo sofreu, até as 17h00min, três longas paradas cardiorespiratórias, sendo que em todas foi ressuscitado pela briosa equipe médica que estava presente no plantão. Ao final da terceira parada cardiorespiratória, o profissional médico responsável sinalizou para a família que a transferência do paciente para uma UTI Cardiorespiratória era urgentíssimo, ou seja, um verdadeiro caso de “vida ou morte”, pois a UPA chegara ao limite de sua atuação. A Assistente Social da UPA, muito solícita, entrou em contato com o Regulador da Central Municipal de Leitos e deste recebeu a seguinte informação: “não há leitos cardiológicos disponíveis”. Ora, qual deveria ser a decisão da Municipalidade? Ordenar a transferência imediata do paciente para um hospital particular que tivesse leito cardiológico, eis que o Município deveria arcar com as despesas até que tivesse uma vaga em UTI cardiológica municipal. Ocorre que mais nada foi dito, ou seja, a família, de parcas rendas, estava entregue “a própria sorte”! Os funcionários da UPA prontamente entregaram a família o encaminhamento médico detalhado e a resposta formal da falta de leitos. A esta altura, já pela noite adentro, só restava a família rezar e solicitar a um advogado amigo que preparasse um mandado de segurança, com pedido liminar para ser despachado no dia seguinte, sábado, no plantão do Judiciário que foi na Comarca de São João da Barra. Assim tudo foi preparado, mas as 04h00min da manhã de sábado, aproximadamente, nosso amigo, que lutava bravamente pela Vida, não resistiu. Partiu para o “Oriente Eterno” deixando saudades ...e revolta. Não do atendimento da UPA, que dentro de suas possibilidades (e não eram muitas), fez todo o possível para “estabilizar” o paciente, mas do sistema de saúde desta “bilionária” cidade, que consegue gastar o muito mais que o valor de um estádio de futebol (de Macaé) para fazer um centro de diversões ”populares” (CEPOP) “entregue as baratas” ou com “feirinhas de carros”, mas não pode investir em saúde para ter leitos de UTIs para seus munícipes. Quantos leitos de UTI aquela fantasiosa obra de “péssima maquiagem” da Avenida Beira Valão propiciaria? Porque não se desapropria todo o restante do quarteirão anexo ao Hospital Ferreira Machado e constrói ali um complexo hospitalar, como temos, por exemplo, o do Hospital Sírio e Libanês em São Paulo? Sabem porque? Porque, simplesmente, não há interesse; porque não se dá valor a vida humana e sim aos projetos materiais que “saltam aos olhos” e mantêm a politicalha no Poder, à décadas, neste “bastardo” Município. Ao final, o que restou, foi um “leito vazio” na UPA, mas não por muito tempo, pois certamente, pouco depois, outro incauto munícipe lá já estaria em busca do socorro, que, infelizmente, nem sempre vem!

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    Marco Barcelos

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