“Cumpro a sina”
lucianaportinho 27/09/2012 17:32
[caption id="attachment_4856" align="alignleft" width="350" caption="Ft. Google"][/caption] 36 anos e 11 meses nos separam do assassinato do jornalista Vladimir Herzog. Era um 24 de outubro de 1975, Vladimir, então diretor de jornalismo da TV Cultura, foi convocado a comparecer ao II Exército (capital de São Paulo). Prestar depoimento o motivo alegado. Queriam saber sobre as ligações dele com o Partido Comunista Brasileiro (naquela época colocado na ilegalidade pela ditadura militar). De peito aberto o jornalista se apresentou. Horas depois, passada intensa tortura, estava morto. A versão oficial divulgada foi “suicídio”. A foto liberada à sociedade brasileira mostrava o jornalista enforcado em sua cela. Mentira que atravessou mais de três décadas até que agora é assumida pelo Estado brasileiro. O juiz Márcio Martins Bonilha Filho, da 2ª Vara de Registros Públicos do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), determinou na segunda-feira (24/09) a retificação do atestado de óbito. Poderá ser finalmente retificado o seu atestado de óbito e retirada a falsa ‘causa mortis’ bancada (por tanto tempo) contra a nossa inteligência. Aos poucos - mais aos poucos do que aos muitos - as verdades se restabelecem. O Estado assume suas responsabilidades atrozes. É cansativo ter que, volta e meia, retornar a crimes dos quais parte dos leitores, talvez nem saiba que aconteceram, mas, aconteceram. Como na poesia de Adélia Prado, “cumpro minha sina”.  

Com licença poética

Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou tão feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos – dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou.

 

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