Cai o pano, de José Cunha Filho
Suzy 17/08/2012 14:47
Pedindo licença a José Cunha Filho, posto aqui o artigo dele publicado hoje na capa da Folha Da Manhã, sobre seu Aluysio. Difícil, seu Cunha, foi acabar de ler com os olhos vermelhos....
  Cai o Pano...                                                                        José Cunha Filho   Pois é, meu velho amigo, você resolveu o caso. Chato é que vou ter que esperar para ler a sua matéria. O “Mistério das Máscaras de Chumbo” criou a figura do primeiro jornalista investigativo sério do Rio de Janeiro. Talvez do Brasil, quem sabe? Não vale falar do Euclides da Cunha que cobriu a Guerra de Canudos. Ele era engenheiro, historiador, repórter nas horas vagas. - É, mas você me apelidou de Escovão, lembra? . Não interfere, Barbosão, você agora é só o leitor e está gozando a descoberta do mistério, lembra? Aliás, de todos. Voltemos ao crime no Morro do Vintém, foi em 20 de agosto de 1966, éramos guapos rapazes naquela época, né mesmo? Prá quem não sabe, uma dica: dois técnicos em eletrônica, Manoel Pereira da Cruz e Miguel José Viana, saíram de Campos e foram encontrados por um rapaz que subira o morro, então deserto naqueles idos, para soltar pipa. Aí começa o mistério. Ambos estavam de terno e gravata, capas de chuva, deitados no chão e com máscaras de chumbo sobre o rosto. No chão, uma garrafa de água mineral vazia, uma agenda com sinais e números, mensagens cifradas. Bilhetes, entre os quais um que dizia: "16:30 estar no local determinado. 18:30 ingerir cápsulas, após efeito proteger metais aguardar sinal máscara". A polícia não conseguiu apurar o que aconteceu. Crime ou suicídio? Foi aí que você saiu de Campos, vibrante repórter de “A Notícia”, para investigar o caso em Niterói. Ouviu testemunhas, entrevistou familiares, levantou a vida pregressa dos técnicos em eletrônica, descobriu que eram ufólogos queriam contatar seres extraterrestres e o Morro do Vintém ganhara fama nos anos 50 em Niterói por ser considerado local de pouso de discos voadores. - Os rostos deles estavam queimados por uma substância qualquer, eu registrei... Calma, homem, você não deve falar. O fato, Aluysio, é que você, como excelente repórter, sabia que o importante eram os fatos, não as versões. E acabou sendo fonte de informações e notícia para os jornalões do Rio e São Paulo e a imprensa mundial. Que decidiu publicar a história tal como você contou... - Faz tempo... Eu sei. E você sabe como me sinto ao contar o quanto era importante para nós, campistas, ter um conterrâneo citado nos jornais mundiais, um Repórter... - Comecei com o turfe, lembra? Claro que me lembro, você era um dos melhores numa época em que o turfe ocupava duas páginas do JB e Globo e o futebol uma tripinha na última página. Você cobriu a inauguração do Hipódromo de Campos e foi durante muito tempo um cronista de turfe. Até o Hervé lhe passar a atribuição de dirigir o jornal. - Foi quando você me conheceu, eu o chamei para fotografar o pediatra Walter Salles. Você  se esqueceu de colocar o filme na máquina. -Aluysio, como é que posso escrever se você me interrompe toda hora, pô? Esqueci não. A máquina era novinha em folha, uma Yashica que tinha um macete no contador de chapas. Se você colocasse o filme fora do lugar, ele não girava. A alavanca se movia, o flash disparava, mas o filme não rodava. - Ficamos órfãos... Voltei e fiz as fotos com uma máquina decente, uma Pentax. A entrevista que você fez foi um rebu danado, coisa de Hervé para furar a censura, a filha do Walter havia sido presa e era um jeito da gente falar do que era proibido. Mas, vamos em frente. Nós brincamos no escorrega do tempo e você, anos depois, usou o livre arbítrio. Coisa importante. Poucos de nós conseguem usá-lo, apesar de ser um dom concedido aos humanos e negado aos anjos. Quase sempre reagimos, não escolhemos opções. Você, meu amigo, optou pelo amor de sua namorada, esposa, companheira, mãe e empresária bem sucedida, Diva dos Santos Abreu Cardoso Barbosa. O demais é história de uma vida bem sucedida e proveitosa e uma nova era para a imprensa fluminense. O que não sabem é que, ainda em “A Notícia”, com o apoio de Hervé Salgado Rodrigues, você criou a figura do jornalista profissional em Campos. Até então, mesmo com um curso de Comunicação recém-inaugurado, jornalismo e radialismo eram “bicos”. O sujeito aparecia quando queria, defendia um trocado vendendo publicidade e ganhando comissão. Você criou a figura do profissional de imprensa com carteira assinada e horário de trabalho definido. Criou a figura do pauteiro, já existente em outras plagas, desconhecida aqui. Você, Barbosão, meu amigo, é o responsável pelo moderno jornalismo de Campos. - É... Mas você continuava a me chamar de Escovão! Bobagem, manovéioamigo. Foi o bigodão de Pancho Villa. Uma peça capilar capaz de humilhar Stalin que você plantou na cara quando voltou para Campos depois de passar uma brilhante temporada como repórter especial do Jornal do Brasil. E sabe? De Escovão virou Barbosão e sempre, esse tempo todo, meu amigo, da turma que sabia das coisas o Celso, o França, o Manoel Luiz, Sergei, Gianinno, o Hervé, as conversas longas nos plantões de notícias... Chato escrever correndo, vento sul de agosto, êita, ainda mais coisas assim, olhos vermelhos – choro vendo filme quanto mais...Ah, eu! – nó na garganta... Vai, Aluysio Cardoso Barbosa, um Jornalista, um Repórter. Companheiro meu. Depois conta pra gente o que aconteceu no Morro do Vintém, homem! Afinal, agora você conhece toda a verdade. Esteja em Paz, Amigo!

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    Suzy Monteiro

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