Comrades 2012: "Seguir em frente", por Mônica Andrade
Marcos Almeida 13/06/2012 05:19

No dia 03.06 foi realizada a mais tradicional das Ultramaratonas, a Comrades. Esse ano o percurso foi no sentido down run e a marcação oficial da prova foi de 89,28km. Eu estava lá pra fazer o meu 2° ano consecutivo e ganhar a medalha back to back. Era um sonho que eu alimentei durante 6 meses de muito treinamento e dedicação. Durante todas as semanas, foram 6 vezes de corrida, 2 vezes de musculação, fisioterapia, nutrição balanceada e no final, massagem pra recuperação pós treino. Num total de 1900km para me sentir preparada pra enfrentar as tão temidas subidas e descidas africanas.

A largada foi em Pietermaritzburg, às 5h30, com temperatura de aproximadamente 3°C. Mais de 16600 corredores, todos juntos, escutando o ritual da largada, que pra mim, é fascinante... O hino da África do Sul seguida de Shosholoza, Carruagem de fogo, o canto do galo e finalmente o tiro do canhão, e aí largam esse amantes desta prova no escuro e  que depois de 89km, só param em Durban! Este ano as condições climáticas foram bastante atípicas - a temperatura fria da largada já é sabido - mas depois do 10km, começou a ter muito vento, um vento contra que acompanhou por quase 30km e depois do 60km a temperatura começou a subir e o calor tornou a prova ainda mais desgastante, o que nos fazia sentir muito mais as dolorosas descidas!

Engana-se quem pensa que só porque você está fazendo o down run significa que você vai somente descer, a prova é toda de subidas e descidas só que no down run, as descidas são mais acentuadas e torna a prova muito mais dura e dolorosa. Infelizmente eu não fiz a prova que esperava, logo nos primeiros quilometros eu senti um desconforto gastrointestinal, na verdade um aumento na motilidade intestinal que me fez ir 8 vezes ao banheiro durante a prova. Isso fez com que eu não conseguisse me alimentar e hidratar de forma correta para correr 89km e culminou num desgaste físico - desidratei - e principalmente um desgaste emocional! Eu me desiquilibrei emocionalmente e corri praticamente 40km chorando, rsrrs.

E aí eu senti o verdadeiro significado da Comrades.... Todos me incetivando com palavras de apoio para eu seguir em frente, para não desistir. Mas em momento algum eu pensei em parar, sabia que tinha tempo de sobra para completar a prova no tempo limite de 12 horas. Eu fiz a Comrades em 10h31' depois de muito choro, alternando corrida com caminhadas e idas ao banheiro. Os africanos falam que a Comrades muda a sua vida e que essa corrida sempre te ensina algo. Esse ano a Comrades me ensinou a me superar! Me ensinou que mesmo você fazendo tudo certo, as coisas podem dar errado e você deve seguir em frente, não se deixar abater e jamais desitir, lutar contra as adversidades e que sempre tem pessoas no seu caminho a te ajudar.

Qual a prova que você conhece onde todos os atletas esperam até o final para dar incentivo aos corredores que ainda estão por vir? Nenhuma, somente a Comrades! A chegada é muito emocionante também, o responsável pela prova fica de costa para o pórtico de chegada, todos fazem contagem regressiva, gritam como uns loucos para aqueles guerreiros que estão vindo ultrapassando a linha de chegada em 12 horas. Você vê pessoas carregando outras mas ninguém pode cruzar a linha de chegada carregado! Às 12 horas em ponto de prova esse senhor dá um tiro para cima e acaba a corrida! Ninguém mais pode cruzar, ninguém recebe mais medalha! A música, Carruagem de Fogo, começa a tocar novamente. Fim de um sonho, fim de mais uma Comrades!

Eu quero agradecer de coração, não vou citar nomes pra não ser injusta caso eu esqueça de alguém que me ajudou de alguma forma, que mantiveram o significado da prova, de camaradagem, presente em todos os 6 meses de treinamento e que sempre me fizeram sentir feliz! Essa prova é unica, eu acho que todos que correm, devem, algum dia, pensar em fazer essa e estar lá pra sentir a energia da Comrades. Eu havia dito que só iria fazer 2 vezes rsrrsrs, mas eu não posso terminar meu ciclo de comradeira com a sensação de não ter aproveitado a prova. Esse ano sofri muito e essa prova é muto especial. Não sei em que ano, mas eu volto, de novo, pra fazer a Comrades. Shosholoza!

Mônica Andrade

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    Sobre o autor

    Marcos Almeida

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    Marcos Almeida é assessor esportivo, especialista em Ciência da Musculação e mestre em Ciência da Motricidade Humana.

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