Morte... Sexo...
bethlandim 23/06/2012 16:20

A morte não precisa e não é o ponto final. Temos muitas vezes o hábito ou o pensar que a morte é finita. A morte é como as reticências... que, aliás, eu adoro... Escrevo muito com reticências, pois as mesmas nos levam para o infinito, para o interminável. Desta forma podemos encarar os nossos relacionamentos, nosso trabalho, nosso prazer, nosso fazer, com reticências. Por que temos que colocar o ponto final? Afinal, se um relacionamento não deu certo, serviu de aprendizado, amadurecimento e de crescimento para outros que poderão vir... Assim encaro a vida e a morte... com reticências! Aliás, morte e sexo, são dois temas que nunca nos são ensinados, aprendemos sempre na prática, no momento de passarmos por eles, e dessa forma podem ser traumáticos ou então, não tem o significado e a beleza que os mesmos representam na valorização do nosso viver. Quando aprendemos a enxergar a morte como uma passagem, enxergamos as reticências, e não o ponto final... Inclusive o “velório” deve ser vivido, como exultação e aclamação de tudo aquilo que aquela pessoa nos fez aprender, chorar, rir, viver... Não devemos ver o velório como uma despedida, apenas não estamos mais no mesmo espaço físico... mas com certeza estamos muito mais intensamente unidos no plano espiritual.

Deveríamos romper estas barreiras e lidar com estes temas com toda naturalidade em nossas casas, com nossos filhos, nossos amigos, até porque, quando vivemos os limites da morte/vida, e a compreensão da passagem, com certeza iremos valorizar muito mais nossa vida, não nos deixando levar por atos pequenos, mesquinhos, discussões bobas, afinal, a vida é um dom e um milagre que nos é oferecido dia a dia...

Às vezes temos o hábito, de viver no futuro: quando eu tiver... quando eu puder... quando meus filhos crescerem... quando ...E então nos esquecemos de viver o presente.

Martin Luther King nos diz: “A pior de todas as tragédias não é morrer jovens, mas completar setenta e cinco anos de idade e ainda não ter realmente vivido.”

 

Às vezes somos um viaduto entre passado e futuro. No entanto, ao conversarmos sobre a morte, algo tão natural e certo em nossa vida terrestre, temos o intenso prazer de valorizar o presente e vivê-lo intensamente, segundo a segundo, sem nos preocuparmos com o futuro...

 

Assim também nos comportamos diante do tabu que é criado em torno do sexo. Não temos o hábito de falar e tratar com normalidade um assunto tão vivo e natural em nossas vidas... Na maioria das vezes fingimos que ele não existe ao não conversarmos com nossos filhos sobre sexo. O sexo é a linguagem corporal do amor, é o prazer encarnado na comunicação entre duas pessoas que se gostam, é a delicadeza do gesto concreto de amar... O sexo não deve vir acompanhado da vergonha, do tabu, do pecado, mas da sinceridade, do amor verdadeiro, do estar vivo, da entrega ao outro que é tão simbólica e prazerosa... Sim, porque às vezes deturpamos as coisas e não nos permitimos ser felizes, ter prazer, viver intensamente, pois em nossa vida terrestre, não existe segundo ato, não existem ensaios e como nos diz o provérbio chinês: “a pedra não pode ser polida sem fricção, nem o homem aperfeiçoado sem tentativas.”

Morremos muitas vezes nessa vida, não apenas fisicamente - no prazo de sete anos, todas as células do nosso corpo são renovadas - mas também emocionalmente e espiritualmente, porque as mudanças nos seguram pela nuca e nos empurram para frente, para uma outra vida, como nos diz José de Alencar: “A alma tem o poder de, nos momentos mais supremos de aflição, suspender-se ao fio mais tênue da esperança.”

Não estamos aqui para simplesmente existir, mas para crescer... Então, abramos nosso coração ao diálogo, encaremos temas como a morte e o sexo como aprendizado e normalidade em nossas vidas, ou melhor, como a pura expressão da vida que pulsa a cada minuto em nosso dia a dia. A sabedoria de Santo Agostinho nos ensina delicadamente sobre a morte...  “A morte não é nada. Apenas passei ao outro mundo. Eu sou eu. Tu és tu. O que fomos um para o outro ainda o somos. Dá-me o nome que sempre me deste. Fala-me como sempre me falaste. Não mudes o tom a um triste ou solene. Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos. Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo. Que o meu nome se pronuncie em casa como sempre se pronunciou. Sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra. A vida continua significando o que significou: continua sendo o que era. O cordão de união não se quebrou. Porque eu estaria fora de teus pensamentos, apenas porque estou fora de tua vista? Não estou longe, somente estou do outro lado do caminho. Já verás, tudo está bem. Redescobrirás o meu coração, e nele redescobrirás a ternura mais pura. Seca tuas lágrimas e se me amas, não chores mais.”

Desta forma, devemos nos desarmar dos tabus e dos preconceitos referentes a temas tão profundos e substanciais, mas que se vividos com naturalidade, nos trarão liberdade interior de vivermos cada vez mais intensamente todos os nossos sentimentos...

Com afeto,

Beth Landim

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