“EU LEVO OU DÊXO?”
bethlandim 16/06/2012 11:28

Duas estórias que nos fazem refletir sobre a relevância da comunicação nos dias atuais...

A primeira nos conta uma lenda. Ruy Barbosa ao chegar a casa, certo dia, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Foi averiguar e constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação.

Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus patos, disse-lhe: “- Oh, bucéfalo anácrono!!!... Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica, bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada”. E o ladrão, confuso, diz: “- Dotô, resumino... Eu levo ou dexo os pato???...”

A segunda nos fala sobre a magia da comunicação. “Havia um cego que pedia esmola à entrada do Viaduto do Chá, em São Paulo. Todos os dias passava por ele, de manhã e à noite, um publicitário que deixava sempre alguns centavos no chapéu do pedinte. O cego trazia pendurado no pescoço um cartaz com a frase: Cego de nascimento. Uma esmola por favor. Certa manhã o publicitário teve uma idéia, virou o letreiro do cego ao contrario e escreveu outra frase. À noite depois de um dia de trabalho perguntou ao cego como é que tinha sido seu dia. O cego respondeu, muito contente: -"Até parece mentira, mas hoje foi um dia extraordinário. Todos que passavam por mim deixavam alguma coisa. Afinal, o que é que o senhor escreveu no letreiro??? O publicitário havia escrito uma frase breve, mas com sentido e carga emotiva suficientes para convencer os que passavam a deixarem algo para o cego. A frase era: Em breve chegará a primavera e eu não poderei vê-la.”

Após a leitura das estórias podemos observar que vivemos formas diferentes de comunicação, que expressam múltiplas situações pessoais, interpessoais, grupais e sociais de conhecer, sentir e viver, que são dinâmicas, que vão evoluindo, modificando-se, modificando-nos e modificando os outros.

Há processos de comunicação superficiais - que expressam mais a exterioridade das coisas - e outros mais profundos - que relacionam o exterior com o interior, que desvendam quem somos, como pensamos, por que agimos de determinada forma. Há processos de comunicação mais autênticos - que expressam o que somos, até onde nos percebemos, que manifestam coerentemente a nossa percepção de nós mesmos e dos outros. Há processos de comunicação inautênticos, que não correspondem ao que percebemos, pensamos e sentimos, que servem a determinados propósitos, que podem levar-nos a deturpar a leitura que os outros fazem de nós - mais ou menos propositalmente. Há processos de comunicação que produzem mudanças, que nos modificam e modificam outras pessoas, enquanto outros processos não nos modificam, nos deixam onde estávamos, nos confirmam em nossos universos mentais pessoais ou grupais.

 

E assim é a vida... Muitas vezes nos deparamos com situações como estas, pois a comunicação sempre fez toda a diferença e no mundo contemporâneo, tornou-se imprescindível, sendo reconhecida como o quinto poder. E então presenciamos de tudo... Pessoas que utilizam da beleza das palavras para iludir o “outro”... pessoas que através de palavras “difíceis” querem demonstrar grande conhecimento, sem ter a consistência verdadeira... Pessoas que se utilizam da comunicação para agredir simplesmente, esquecendo da ética, da educação, da gentileza que deve reger as nossas relações... Como nos diz Nelson Mandela... “Se você falar com um homem numa linguagem que ele compreende, isso entra na cabeça dele. Se você falar com ele em sua própria linguagem, você atinge seu coração.”

E este é um dos grandes desafios da humanidade, aprender a arte de comunicar-se, pois da comunicação depende, muitas vezes, a desgraça ou a felicidade, a guerra ou a paz. A pequena passagem de Ruy Barbosa, um dos intelectuais mais brilhantes do seu tempo, tendo sido um dos organizadores da República e co-autor da constituição da Primeira República nos mostram como é nobre o domínio das palavras mas também o domínio sobre a forma de empregá-las. Palavra em latim é parabola, que por sua vez deriva do grego parabolé, representa um conjunto de letras ou sons de uma língua juntamente com a idéia associada a este conjunto. A função da palavra é representar partes do pensamento humano. A palavra deve ser uma ponte, unindo pessoas da melhor forma, transformando sempre positivamente contextos e situações, levando a verdade, mas não perdendo o sentido nobre da sua função, pois é através das palavras que formamos os fios com os quais tecemos nossas experiências.

Pense nisso e observe bem se você “leva ou dêxa” a desejar com a forma em que usa as suas palavras e se você contribui através delas para um relacionamento melhor com sua família, no seu ambiente profissional, com seus filhos, seus amigos, enfim, para um mundo melhor... pois a palavra é a arte de ir ao encontro do outro.

Uma boa e bem humorada semana para todos nós...

Com afeto,

Beth Landim

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