Imagens das farras em Paris divulgadas por Garotinho deixam Cabral enrolado
Esdras 07/05/2012 12:30
Quando finalmente decidir falar a verdade sobre as suas relações com Fernando Cavendish, da Delta Construções, Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro, vai ter que se esforçar muito para explicar tudo, ou quase tudo, dessa estranhíssima promiscuidade entre o governador de uma das principais unidades da federação e o maior empreiteiro a serviço do estado, atualmente no epicentro de um dos maiores escândalos de corrupção que está sendo desvendado em nosso país. Cabral em situação complicada Os aliados do Governador Sérgio Cabral na região têm todos os motivos para se preocupar, ele está cada vez mais enrolado nas consequências das tão promíscuas, quanto perigosas, ligações que mantém com Fernando Cavendish, o empreiteiro que mais sangra as finanças do estado, com contratos que ultrapassam mais de R$ 1,5 bilhão, e “Capo” da lamentavelmente famosa Delta Construções, uma das estrelas do mega escândalo de corrupção do bicheiro Carlinhos Cachoeira, atualmente trancafiado em uma cela. As revelações do blog do político campista e ex-governador Anthony Garotinho, amplamente divulgadas pela mídia nacional, inclusive pela própria Rede Globo, sempre tão amiga de Cabral, também levam de roldão nessa verdadeira enxurrada de lama os secretários Régis Fichtner (da comissão de sindicância criada por Cabral para investigar os contratos da Delta), o secretário de Governo Wilson Carlos, afeito a tentar controlar a imprensa com a distribuição de verbas, o secretário de Saúde Sérgio Côrtes e o secretário de Transportes Julio Lopes, este último sempre posou de bom moço em suas passagens pela região. Além dos fortes indícios de favorecimento ao empreiteiro da Delta Construções em licitações nas obras do estado, a publicação das fotos e vídeos das farras parisienses, onde supunham não serem descobertas, deixaram revoltados os cidadãos de todo o estado. NOTA DO BLOG: Fogo ex-amigo Note que essa última frase do renomado colunista corrobora as suspeitas de que o “material bomba” publicado pelo ex-governador em seu blog tenha chegado às mãos de Garotinho por manobras do próprio Cavendish, para se vingar de Sérgio Cabral que o teria traído nessa sórdida história. Para tentar salvar a própria pele Cabral, assim como Pedro negou Jesus três vezes, já negou a sua presença no fatídico acidente no sul da Bahia, para não admitir a amizade com Cavendish, (o que foi obrigado a admitir depois), recentemente negou seu compadrio com Cavendish e, agora, tudo indica, nega o seu apoio e parece decidido a salvar a própria pele jogando o ex melhor amigo aos leões como desesperado recurso para atenuar os profundos arranhões à sua imagem. Mas Cavendish não parece estar disposto a caminhar solitário em direção às garras de uma CPI, que apura, entre outras coisas, a legalidade dos R$ 2,8 bilhões recebidos em cinco anos do Governo Federal pela empresa Delta para realizar obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). A CPI agora está turbinada pelo forte clamor popular diante dos fatos e das imagens divulgadas. Só por milagre Cabral escaparia ileso desse abraço de afogado... Ligações perigosas deixam Cabral a um passo de depor na CPI Tudo poderia ser perdoado ou desconsiderado se fosse apenas fruto de pouca educação ou da famosa falta de berço e excesso de dinheiro de um simples grupo de novos ricos, mas, nesse caso, a coisa é muito mais séria, pois envolve as relações de um governador e vários secretários com o proprietário de uma empresa, a Delta, que está no centro das investigações de uma CPI apontada pela Polícia Federal como financiadora de empresas fantasmas criadas pelo contraventor Carlinhos Cachoeira, preso em virtude das investigações da Operação Monte Carlo. No governo Cabral, a Delta recebeu R$ 1,5 bilhão. Além de muitas outras respostas, o governador Sérgio Cabral terá que explicar muito bem a fonte de recursos para pagar essas farras em Paris, avaliadas, a cada viagem, em cerca de 400 mil reais. Se as farras parisienses foram pagas pelo empreiteiro, como parecem ter sido, a casa cai de vez. Se foram pagas com o dinheiro público, também. Pior ainda se Cabral disser que foi do próprio bolso, afinal, ganharia tanto assim para bancar tais despesas? Ou seja, não importa a fonte dos recursos esbanjados, qualquer explicação só irá piorar as coisas. Partidos e parlamentares consideram a convocação do governador Sérgio Cabral imprescindível para que a CPI não seja desmoralizada. O estrago feito pelas impressionantes revelações do ex-governador Garotinho já está feito e é de dificílima, ou impossível, solução. Cabral está no que se chama popularmente de uma “sinuca de bico”. Não dá para desmentir tais fotos e vídeos, e quanto mais o governador tenta desmentir mentindo, pior a coisa fica para o seu lado. Essa situação parece estar criando os contornos da extinção da vida política de quem já foi uma grande promessa para o estado. Mas de promessas, o inferno está cheio... Efeito colateral A candidatura do vice-governador Pézão, que já não andava lá bem das pernas na lanterninha das pesquisas, apesar de contar com o apoio da máquina, agora parece estar definitivamente comprometida pela revelação das peripécias do seu mentor Cabral e a “Turma do Guardanapo” em Paris. Mas, como se não bastasse tanta desventura, o vice parece ter virado um baita Pézão frio com o roubo em seu apartamento, na Rua Rainha Guilhermina, no Leblon, revelando uma enorme coleção de caixas de joias, cerca de 15, encontradas pela polícia vazias em cima da sua cama enquanto ele passeava, como sempre, na Itália. O inesperado assalto à casa do vice-governador do estado, exatamente enquanto explodia uma “bomba” dessas em cima do seu chefe, deixa várias interrogações no ar, e nenhuma delas parece estar muito longe da realidade. Entre as principais, o que de mais valioso teria sido roubado? Haveria ali algum documento que poderia comprometer alguém poderoso? Ladrões com esse nível de profissionalismo, a ponto de assaltar o apartamento de um vice-governador sem chamar ao menos a atenção dos vizinhos, podem considerar as valiosas joias de Pézão apenas um pequeno brinde diante do alvo principal, além de servir para desviar a atenção do verdadeiro intento. Também deixa dúvidas a origem de tantas joias e porque conservá-las em casa, quando um cofre bancário seria muito mais seguro. Esse pequeno tesouro teria sido declarado à receita Federal? Como os gatunos sabiam da existência de alvos valiosos e que Pézão passeava na Itália? Quem poderia ter acesso a esse tipo de informação? Pézão saberia o que despertou a cobiça? Desconfiaria da identidade dos autores ou, pelos menos, de eventuais mandantes? Ainda são muitas as dúvidas. Mas uma coisa é certa: quando se trata de eventos envolvendo políticos, com tantas lacunas sem respostas, nada é por acaso. Na última quarta-feira, equipes da 14ª DP realizaram diligências no apartamento para tentar identificar o que foi roubado. Segundo os agentes policiais, teriam sido furtadas apenas joias e objetos pessoais. A lista completa do que os gatunos levaram só mesmo o vice-governador poderá informar, o que afasta qualquer esperança de que toda a verdade nessa intrincada história um dia possa vir à tona. Leia mais na edição da Somos Assim, nas bancas.

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