Crise no Americano - César Gama: “A gente tem que vender o estádio”
Esdras 22/04/2012 23:30
[caption id="attachment_3302" align="aligncenter" width="567" caption="Capa da Somos dessa semana, nas bancas"][/caption]    A queda do Americano para a segunda divisão do futebol do Estado do Rio de Janeiro vem se desenhando há tempos. Sem uma estrutura moderna e o apoio da Federação perdido com a morte de Caixa D´Água, o time campista fraquejou frente ao Flamengo, perdendo de 3 a 1 no Engenhão, sendo rebaixado para a segunda divisão, deixando, após 33 anos, a elite do futebol estadual, e abrindo uma séria crise no clube alvinegro do Parque Tamandaré. Diretoria e sócios, que já não comungavam alegrias, ainda não conseguiram dividir a tristeza. O clima é de desânimo, mas ainda existem sócios dispostos a apoiar a atual direção liderada por César Gama, que preside o clube há 19 anos. Mas as propostas de venda do estádio, por parte da direção, e de uma nova direção colegiada, proposta pelos sócios, ainda estão longe de serem aceitas pelas duas partes. O certo é o Americano ainda vai passar um bom período de “sangue , suor e lágrimas” para se reerguer e voltar a primeira divisão do futebol estadual.    Diante do impasse, a equipe da Somos entrevistou o presidente do clube, o empresário César Gama, e o representante de um grupo de sócios, Júlio Manhães. Logo de início deu para perceber que ambos têm uma coisa muito forte em comum, o amor pelo clube e o desejo de reerguê-lo. Confira as entrevistas, na íntegra, na Somos dessa semana, nas bancas edição. Enquanto isso leia alguns trechos abaixo: Trechos da entrevista com César Gama: Trecho I “Somos: Nesses 19 anos, o que o Americano faturou de título, o que marcou mais?  César: Foi em 2002, a taça Guanabara e a Taça Rio. Campeão invicto da Taça Guanabara. Foi o maior título que o Americano teve em seus 98 anos de clube. O Americano nunca teve oposição. O Americano sempre teve uma vida sem problema. A pessoa que saía, saía e ia embora. E agora, nessa última gestão, quando tinha eleição eles entraram com mandado de segurança, cancelaram a eleição. Levou um ano para marcar nova eleição. Somos: Nesse período você continuou a frente? César: Continuei a frente, em maio acabou meu mandato e o juiz prorrogou meu mandato até novas eleições. Então, depois que o pessoal que estava aqui na nossa diretoria entrou para a oposição e que foi pra rádio para só falar besteira, falar coisa que não deve, destruindo o clube... Somos: O que eles falaram que te incomodou mais? César: Muita coisa que a oposição ia para o rádio pra falar. Somos: E essa oposição já foi situação com você? César: Já foi presidente do Conselho, foi administrativo, é benemérito do clube. Então partiram para a oposição com um sócio remido que é radialista, e que alugou um programa de rádio só para poder ‘meter o pau em mim’. Isso aí desgastou muito o Americano.” Trecho II “Somos: O que você sentiu quando você viu: “caiu”. César: Eu fui meio desanimado ao vestiário animar os jogadores, mas eu já sabia que estava armado e já esperava o resultado. Mas a esperança é muito grande da gente poder virar a coisa ainda, mas com o resultado vindo ao contrário, eu fiquei muito revoltado, peguei meu carro quando acabou o jogo e fiquei perdido lá no Engenhão, cheguei à casa meia noite. Depois eu soube que a torcida do Goytacaz tinha feito passeata, passou na minha casa com foguete, sabendo que eu estava lá no Rio, porque eu não perco jogo seja onde for. Somos: Então a torcida do Goytacaz vibrou com a queda do Americano? César: Com direito a foguete e tudo. Quando eles caíram para a segunda divisão, o Americano fez passeata, passou no Goytacaz, então eles estavam esperando o Americano cair há 34 anos. É uma situação difícil, eu sofri muito, eu não consegui ainda acreditar que o Americano caiu, a ficha não caiu ainda, acho que o Americano ainda está na primeira divisão. Não tenho dormido, acordo 2h da manhã e não durmo mais. É uma tensão danada, é um sofrimento muito grande e a gente não merece, dá vontade de largar. Eu sou pobre, sou aqui do interior, sou da baixada, então hoje eu coloquei 500 mil reais aqui no Americano. Eu sou pobre, tenho poucos bens, tenho 71 anos de idade e trabalho até hoje, tenho minha empresa imobiliária, corro atrás, luto muito. Eu vendi uma casa na praia e coloquei aqui o dinheiro todo, peguei 100 mil com minha esposa e mais 100 mil com uma pessoa amiga, eu pagando juros. Eu tenho 500 mil aqui, eu e minha mulher, e não tem como tirar. Dá vontade de sumir.” Trecho III “Somos: Vamos falar de venda então. Como é essa história de vender o estádio? César: Eu acho assim, o Americano do jeito que está aqui não tem condições de tocar, porque todo ano nós temos que gastar um dinheirão para fazer alguma bem feitoria, para dar condições de jogo. A gente gasta 150, 200 mil de onde não tem. Não tem o conforto necessário. Então a gente precisa dar condições de poder jogar. Eu acho que o Americano tem que fazer um estádio fora. Existe uma área aqui perto da Arthur Bernardes que seria ideal, a gente ia fazer um centro de treinamento. Então a gente tem que vender o estádio.” Trecho IV “Somos: Mas na informação que tivemos a proposta não seria só essa. Parece que eles querem te propor uma direção colegiada. Um grupo de sócios, com você fazendo parte, administraria o clube. César: Em princípio eu não aceito isso! Pessoa nenhuma vai fazer melhor do que eu.” 
[caption id="attachment_3306" align="alignleft" width="378" caption="Julio Manhães"][/caption]   Trechos da entrevista com Júlio Manhães: Trecho I “Somos: Você faz parte de um grupo que se interessa pelos problemas do Americano? Júlio: Sim, na verdade, na faculdade, há 10 anos, eu fiz um trabalho de planejamento estratégico para o Americano com orientação de uma professora. Eu apresentei o trabalho ao clube e na época o César falou que para implementar essas ideias eu teria que vir para o clube e participar do dia a dia do clube e na época eu saía de Campos às 5h da manhã para a Petrobras em Macaé e voltava às 19h e ia para a faculdade. Só chegando a casa às 23h, então, eu expliquei pra ele que eu não tinha a mínima condição de ter presença física no clube. Eu imprimi o trabalho, entreguei pra ele, mas nada foi feito.” Trecho II “Somos: Ontem nós fizemos uma entrevista com César Gama, e ele confirmou a vontade de vender o estádio, como já havíamos antecipado. Ele diz que a única saída para o Americano seria vender esse estádio, porque tem um custo muito grande e que hoje, com a queda do Americano para a segunda divisão, não vai receber dinheiro da Globo e os custos são enormes. Qual a posição de vocês em relação a isso? Júlio: Nós temos a sugestão de manter a identidade do clube mantendo o estádio onde está. Somos: Vocês não concordam com essa venda? Júlio: A princípio não. Concordamos que a despesa do futebol hoje é muito grande, concordamos que a queda para segunda divisão diminuiu as receitas do clube, concordamos com todas essas dificuldades, mas buscamos uma solução para que possamos manter a identidade do clube. Então, ao invés de vender todo o estádio, a ideia seria vender as áreas atrás dos dois gols, que dariam em torno de 8.000 m2.” Trecho III “Somos: Nessa proposta o Americano não teria mais presidente? Júlio: Seria um colegiado, um conselho com dez cabeças que iriam responder pelas decisões do clube, obviamente, se tiver que alguém assinar, ele pode continuar assinando sem problema nenhum, mas as decisões mandatórias seriam da maioria desse conselho. Somos: Nós perguntamos diretamente a ele se aceitaria essa proposta de um colegiado, e ele foi muito firme em falar que não. Ele mudou de ideia de ontem para cá? Júlio: É uma ideia que, na verdade, é uma quebra de paradigma muito grande, então, é natural que um ser humano tenha resistência.”

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