Poder X Autoridade
bethlandim 02/04/2012 11:41

“Ter poder”: esta expressão ecoa forte no coração humano. O poder deslumbra, ofusca e pode facilmente se tornar o centro da identidade de um indivíduo. Seu brilho encanta e seduz, sua proposta é extremamente atraente e para muitos ele é a suprema ambição. Na verdade, o poder é uma das forças mais sedutoras em todos os tempos, e que se expressa nas atitudes de dominar, manipular, subjugar para que tudo possa ser feito segundo o próprio gosto e os próprios interesses. Não há ser humano que não tenha sido tentado pelo canto desta sereia. A cultura do poder suga o “espírito” da vida de uma comunidade, minando sua criatividade e fragilizando seus laços de convivência. Quem tem poder não age, dá ordens, jamais suja as próprias mãos, é impune e não deixa  impressões digitais. Com isso, a vida se torna uma arena de disputas e competições. É o extremo de perversidade e de desvio do coração humano. Uma das mais graves distorções do poder é a cegueira situacional. Ao ocupar função de mando, a pessoa perde a visão do conjunto, sofre atrofia ótica e passa a enxergar tão-somente a sua situação de poder. O poder sobe à cabeça e induz, a quem o exerce.

Manter-se no poder a todo custo preocupa mais a pessoa que fazer bom uso dele. O poder não constrói comunidade, pois a pessoa se cerca de subservientes que cumprem suas ordens, dizem amém às suas idéias ou, ainda que críticos, calam-se coniventes, pois nutrem também suas ambições e não querem ser rifados por quem possui mais poder que eles.    Jesus despoja-se do poder. Ele tem autoridade: “ensinava-lhes com autoridade e não como os escribas”. E a autoridade de Jesus não tem nada a ver com o poder que se impõe ou a liderança que arrasta. O poder nunca é mediação para a libertação do ser humano. A palavra “autoridade” vem do verbo latino “augere”, que significa literalmente aumentar, acrescentar, fazer crescer, dar vigor, robustecer, sustentar, elevar...

É a qualidade, a virtude e a força que serve para apoiar, para alentar, para sustentar, para ajudar as pessoa a serem elas mesmas, para fazê-las crescer, desenvolvendo suas próprias potencialidades. A autoridade é essencialmente amor. Jesus revela sua autoridade ao fazer cada pessoa descobrir, em seu interior, uma força capaz de libertá-la radicalmente. A oferta de vida nova feita por Jesus permite comprovar que há no fundo de cada ser humano uma força criadora e criativa, que não há poder algum que possa destruí-la, nem sequer a morte.

Neste sentido, a autoridade traz a paz, ilumina e faz crescer, ao passo que o poder gera ansiedade, medo e faz o outro se sentir inferior. A autoridade inspira e motiva as outras pessoas a fazer as coisas com boa vontade e ânimo: o poder as obriga, por causa de sua posição de força. Por seu caráter impositivo, o poder deteriora relacionamentos, resvalando-se para o terreno pantanoso da competição, da suspeita, da intriga. A autoridade reconhece a riqueza e a possibilidade do outro. Ela anima, sustenta, desafia e impulsiona aquilo que cada um tem de melhor em seu interior. Os Evangelhos relatam que também os discípulos de Jesus demonstravam apetite pelo poder: discutiam entre si qual deles era o maior, alguns pretendiam ocupar os primeiros lugares. Mas Jesus, que foi tão tolerante com aqueles homens em outras coisas, neste ponto foi taxativo: “aquele dentre vós que quiser ser o maior, seja o vosso servidor, e aquele que quiser se o primeiro dentre vós, seja o servo de todos”.

Que estes últimos dias que antecedem a celebração da Páscoa possam nos levar a reflexões, orações e conversões espirituais de forma mais intensa, nos permitindo a aproximação com Jesus e o nosso crescimento espiritual, fazendo com que estejamos preparados para um recomeço, um renascimento, pois somos o reflexo de nossas atitudes, dos nossos atos, e podemos e devemos sempre repensá-los para que possamos trilhar um caminho que nos leve ao encontro da felicidade, pois ela é feita sempre de pequenos momentos... Uma feliz e boa semana para todos!

Com afeto,

Beth Landim

 

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