Vivo ou Morto?
bethlandim 05/03/2012 12:28

Há mais ou menos um mês... vivemos como na Idade da Pedra, tentando falar ao celular, sem nenhum êxito... Somos obrigados a gastar vários impulsos, ficar torcendo telepaticamente para que a ligação se complete e possamos ouvir quem está do outro lado da linha. Quem irá pagar os inúmeros impulsos e mais que chegarão em nossa conta telefônica? Quem irá pagar os negócios perdidos pelos profissionais que tem no aparelho celular seu instrumento de trabalho? Quem irá pagar o desgaste das inúmeras tentativas em vão? Quem irá pagar a falta de honradez e ética ao prestar o mínimo de serviços contratados por nós consumidores?

O sistema capitalista mundial até fins dos anos oitenta do século passado, se orgulhava do primor com que tratava seus clientes. As companhias aéreas davam bons exemplos, assim como operadoras de cartões de crédito, de telefonia celular, de energia elétrica, dos correios e dos bancos e várias outras grandes empresas dos setores massificados. Havia competição séria e luta severa por fatias do mercado consumidor. Por isso, parte do lucro, às vezes grande parte, era investida na busca da satisfação dos clientes, não só para o atingimento da fidelização como para a conquista dos novos. Recursos eram investidos na qualidade e na infra-estrutura dos negócios. Os consumidores eram bem tratados e até mesmo bajulados.

Com o surgimento das junções de empresas, fusões, aquisições etc, criaram-se oligopólios e enormes grupos que atuam em conjunto, dominando todo ou quase todo o mercado de sua área de atuação. Além disso, com a administração dessas gigantescas corporações cada vez mais "financeira" que produtiva, a preocupação com a qualidade se esvaiu. O capitalismo mudou: o consumidor se tornou apenas um número (ou um nome num painel, num banco de dados ou algo semelhante) que pode gerar um certa receita monetária, mas cujos direitos, interesses e necessidades não têm mais importância.

Os consumidores são tratados como marionetes, que hipnotizados, devem obedecer ao comando do marketing e da publicidade. É feito de tudo para que eles acreditem nas fantasias veiculadas. Anúncios publicitários mentem ... somos levados ao ilusionismo do consumo, sem de fato usufruirmos o produto oferecido na íntegra.

O overbooking e todos os benefícios excluídos do atual serviço prestado pelas companhias aéreas são uma clara demonstração desse novo modelo capitalista, que despreza o consumidor e que só pensa no ganho financeiro. Os atuais administradores não estão preocupados com seus clientes, especialmente nos setores de baixa competitividade e naqueles em que o consumidor não tem escolha (ou seja, em muitos setores). A qualidade cai, mas gera alguma economia financeira que, na escala, representa maior faturamento e com isso surge o desprezo ao consumidor.

Mas ainda temos leis e estas precisam ser cumpridas. O overbooking, por exemplo, é quase um estelionato, pois é a venda do mesmo assento para mais de uma pessoa (tente fazer o mesmo, vendendo seu automóvel ou seu imóvel para duas pessoas diferentes ao mesmo tempo...). Ademais, as companhias aéreas descobriram uma fórmula para continuar a burlar: quando acontece o problema (basta ir aos aeroportos para verificar sua constância), elas saem distribuindo alguns trocados para receberem de volta o assento vendido. São verdadeiras migalhas em troca de direitos. Eu não tenho dúvida em afirmar que o overkooking é uma prática ilegal e grosseira que precisa ser punida. Até quando seremos passivos? Temos que deixar para gerações futuras uma identidade cultural consciente e solidária, pois nós brasileiros, não estamos acostumados a questionar, exigir e ir em busca dos nossos direitos. Direitos que sempre estão acompanhados de deveres.

Quantas e quantas vezes ficamos com o prejuízo de aparelhos queimados pela falta constante de energia elétrica, porque até entrarmos com uma reclamação, para constatação, reconhecimento e indenização, perdemos tanto tempo, que ao final das contas, achamos que sai mais “barato” deixarmos para lá. É esta tendência do “deixar para lá”, do não exercício da cidadania, que como uma bola de neve, reforça a falta de respeito destas empresas com os consumidores. Sejamos educados, respeitosos, mas nunca podemos abrir mão dos nossos direitos.

Hoje, em pleno século XXI, temos o advento das redes sociais, que muito nos servem para protestarmos pelos maus serviços, mas somente falar não é o bastante. Precisamos interiorizar esta cultura consciente e responsável pelo respeito do direito do consumidor.

Nossa cota de impostos é altíssima, o que já nos lesa dia-a-dia, não podemos mais nos calar e sermos lesados cumulativamente em tudo.

Pense nisto. Seus direitos estão vivos ou mortos no seu dia-a-dia?

Com afeto,

BethLandim

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