TRÂNSITO FATAL.
lucianaportinho 09/08/2011 21:44
Lá estavam as duas em situação bem desigual. Triste. Para ambas. Naquela UTI, condensava-se todo o universo. Em suas mentes passavam tempos em impressões distintas. De qualquer forma, as imagens ficaram preservadas em registros particulares.  Assim transcorre a vida. Hora há em que nos sentimos gigantes, outra logo a seguir e, oprimidos estamos todos. Quanto mistério, profusão de faltas de respostas. O fato é que elas ali se encontravam naquilo que eram suas histórias. Metade de seu corpo imóvel, inutilizado por um AVC. Ela  fora tão vaidosa, agora não havia como disfarçar. A pele branca que a caracterizava, adquirira coloração algo amarela, parda. Ganhou ares de índia. Uma índia irremediavelmente rendida. As mãos pequeninas não mais se relacionavam entre si. A esquerda inchada, inerte. A direita em movimento excitado, disposta a agarrar o que ainda lhe faltava nesta existência. Fora uma mulher atormentada, desde a mais tenra juventude. Uma vida que se fizera por sofrimentos provocados. Sucessão de desencontros. Ansiava perdão, tinha medo. Os aparelhos todos ligados monitorando seus momentos de falência. Fios, luzes, gráficos. Ao chegar naquele ambiente, Rachel mais uma vez se compadeceu. Seus últimos encontros, ainda que esparsos, foram sem exceção carregados de uma emoção dramática. Sentia-se em falta, necessitava visita-lá ainda em vida. Deixou-se ficar, a cabeça apoiada à maca na suspensão da temporalidade. Lágrimas pontuavam suas faces. Infinita compreensão as percorreram ao se entrelaçarem os dedos. Nada a falar, palavras teriam sido fúteis, no diálogo final. Luciana Portinho  

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