Usinas voltam a moer e presidente da Coagro desabafa
Esdras
Desde a última sexta-feira, os funcionários, diretores e fornecedores das duas principais usinas de Campos, além do comércio em geral do município, voltaram a respirar aliviados com o retorno das atividades industriais na usinas Coagro e Paraíso, que voltaram a moer a atual safra sem maiores sobressaltos, após o parecer favorável do Tribunal Regional Federal ao Agravo de Instrumento da Coagro que derrubou a liminar da 2ª Vara Federal de Campos, que proibia que cinco usinas da região recebessem cana com a palha queimada. Em sua decisão, o desembargador relator José Neiva, além de frisar a existência de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) celebrado com o Ministério Público Estadual, que não poderia ser desconsiderado, também citou o comprometimento da atividade, da séria repercussão social, e da existência da Lei Estadual 5.990/2011, que fala da eliminação gradativa da queima da palha da cana até 2024. Na revista Somos Assim desse domingo, uma entrevista exclusiva com o presidente da Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro, a Coagro, Frederico Paes, que fala da queima da cana de açúcar e os prazos de que o setor precisa para substituir o trabalho realizado pelo homem pelo trabalho realizado pela máquina. Confira alguns trechos abaixo: “Quando nós entramos aqui, em 2003 (hoje nós temos dois mil e trezentos e cinco funcionários), eram duzentos funcionários, com três meses de salários atrasados, férias atrasadas, sete milhões de passivos trabalhistas que foram todos quitados. Muitos ex-funcionários da Usina São José são nossos funcionários. Hoje, a gente gera dez vezes mais empregos do que quando nós entramos aqui. Então, fica a pergunta no ar: a quem interessa acabar com a Coagro ou com o setor que vem, sim, procurando se modernizar? A quem interessa prejudicar uma cooperativa de nove mil produtores, em sua grande maioria pequenos produtores? A quem interessa fechar uma cooperativa que está rigorosamente com seus impostos em dia? Não devemos nada de INSS, FGTS, IPI, enfim, todos os impostos municipais, estaduais, federais. E nós temos todas as certidões possíveis que a legislação brasileira exige. Somos uma empresa perfeita? Não. Essa nós só vamos achar no Céu. Mas somos uma empresa que procura acertar. Então, dentro desse ‘procurar acertar’, a gente fica muito preocupado com a quem, a que grupo, a que setor, a que segmento interessa o final da Coagro?” “Primeiro, eu acredito na justiça de Deus e, depois, eu acredito, sim, na justiça dos homens. E a justiça brasileira pode tardar um pouco, ela é lenta, mas ela não falha. E ela foi muito feliz quando o desembargador enxergou o que, infelizmente, a Justiça Federal de Campos não enxergou, nem o promotor público federal enxergou que ia desempregar dez mil pessoas. Então, é lógico que a gente tem que ter muito cuidado com o meio ambiente, mas a gente tem que ter muito cuidado, também, com as pessoas, com o ser humano, que depende do seu emprego para comer. A gente precisa ter muito cuidado na hora de pensar, e o juiz, na hora de dar uma decisão, tem que pensar que vai desempregar dez mil pais de família! Dez mil trabalhadores. Converse com estas pessoas. Esse ano, por exemplo, nós deixamos de contratar trezentas pessoas por causa das máquinas que compramos. Então, são trezentos empregos a menos na Coagro por causa da mecanização. E nós vamos mecanizar, conforme a lei exige. Há de se criar um programa municipal, com participação do Estado, também. Para quê? Para qualificação e realocação destes trabalhadores. Onde é que estão esses trezentos trabalhadores que vieram aqui bater na porta da Coagro pedir emprego e não tivemos a vaga, porque hoje tem as máquinas cortando cana? Esse ano, foram trezentos, ano que vem serão quinhentos, e assim por diante, até deixar de dar emprego a mil e trezentos trabalhadores do corte de cana.” “Não há de se falar em inconstitucionalidade numa lei aprovada por unanimidade pela Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), que é um fato raríssimo. Ali dentro da Alerj. Essa lei não teve uma emenda. Ela foi aprovada por unanimidade, na íntegra. Eu acho que o Ministério Público tem que defender as leis, mas também defender o povo.” “Nós ficamos cinco dias sem fazer nada, mas pagamos aos nossos trabalhadores, a dois mil e trezentos e cinco trabalhadores. O prejuízo financeiro foi enorme” “Quem é do setor ou conhece um pouquinho de usina sabe que, no começo, você tem um prejuízo enorme porque no processo de fermentação do álcool e da fabricação do açúcar, é como se estivéssemos saindo do zero. E nós sequer fomos chamados para uma audiência. Não nos deram o direito de defesa. E isso é muito grave. Não fomos convidados, apesar da nossa insistência através de documentos. Desde 2009, no Ministério Público Federal! Sequer nos dão o direito à defesa. Se o Ministério Público Federal não queria nos ouvir, a Justiça Federal de Campos podia ouvir o setor. "Olha, eu vou dar uma decisão judicial aqui. O que vai acontecer?". Deveria procura saber. Investigar primeiro o dano moral, o dano financeiro, o dano social que isso causaria e causou... É muito grave! O setor não vai ficar parado. Nós vamos atrás desse prejuízo moral, nós vamos procurar a Justiça brasileira porque eu acredito na Justiça brasileira. O dano moral tem que ser reparado. Pelo menos se não for reparado, tem que ser reconhecido. E o que nós sofremos foi um dano enorme, não só para a nossa classe, mas para toda a sociedade civil organizada de Campos, que teve seus direitos cerceados. É importante esta oportunidade para dizer a verdade, porque muitos meios de comunicação disseram que nós estávamos defendendo a queimada. Não. Nós defendemos o fim gradativo da queimada. E a garantia do emprego de milhares de pessoas. Leia  a esclarecedora entrevista na íntegra na edição dessa semana da Somos .
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