PARA ESQUECER ALGUÉM NÃO EXISTE RECEITA
lucianaportinho 03/05/2011 22:16

Para você leitor, mais um texto tão denso quanto belo, do jornalista Nino Bellieny, publicado no site http://nino.radioabsoluta.com.br/?p=30.

PARA ESQUECER ALGUÉM NÃO EXISTE RECEITA Posted in postagem on abr 27, 2011
NINO BELLIENY Para esquecer alguém não existe receita. Quanto maior o esforço maior a resistência. Isto não é só filosofia de bar, mas, principalmente uma questão de Física. É como tentar empurrar uma pedra de meia tonelada sem a ajuda de meios necessários… para esquecer alguém é preciso alguns equipamentos. Eles não estão disponíveis no mercado. Não podem ser confundidos com pessoas que entrarão em sua vida, mas não em seu coração. Se entrarem, não significa que seja preciso expulsar antigos inquilinos para a acomodação de outros. Eles não saberão a não ser que sejam comunicados, que coexistem e são moradores de uma assombrosamente espaçosa casa. Não se cruzarão pelos corredores, não usarão o mesmo banheiro nem a piscina, só o dono do imóvel saberá que naquele espaço almas diversas caminham eternas. Querer esquecer alguém, provavelmente é porque algum tipo de mágica errada aconteceu. Uma palavra afiada que cortou a invisível carne que sangra somente por dentro, uma negativa amorosa, uma ou várias formas de indiferença, várias traições sintetizadas em uma única- a decisiva e derradeira, a reveladora traição- uma amizade interesseira, enfim, tantas maneiras de machucar, algumas até na tentativa de se defender. Então procura-se o aparente impossível: banir do solo sagrado da memória afetiva, a imagem da pessoa querida, o som da sua voz, as palavras do tempo de carinho, os momentos de encantamento. Na luta para não lembrar, lembra-se. Uma batalha naval onde os neurônios atiram torpedo uns contra os outros e não conseguem a vitória do esquecimento. A intensa guerra atiça as recordações e o cheiro, o sabor dos beijos, a consistência da pele, os olhos brilhantes e molhados de alguém dançando como figura viva. Esquecer alguém só é possível… não esquecendo! Cultivando com carinho, mesmo que pareça ser a mais dolorosa alternativa. Perdoando… entendendo que não se pode culpar ninguém que fez e ainda faz, sempre fará, parte da vida de quem deixou que parte fizesse. Também perdoar-se. Não se culpar por isso, mas reconhecer, que se alguém chegou, foi por encontrar a porta aberta e do mesmo modo saiu. Ainda que esta porta estivesse trancada por fora, quem deseja ir, mesmo com o corpo aprisionado já está longe faz tempo. Seria imperdoável querer manter uma pessoa contra sua própria vontade. Esquecer alguém não é imediatamente trocar de alguém e sim, seguir vivendo.

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