Terra Estranha
lucianaportinho 15/04/2011 16:13
Ontem, estive no sepultamento de Sebastiana Granato. Mãe de Ivald Granato, o nosso querido artista plástico que de Campos saiu para fazer carreira internacional. Eram 16h. Assim como familiares e amigos, estava eu, no Cemitério do Caju. Provavelmente cada um dos que agora me lêem já tem um naco de sua história lá. Eu, mesma, carioca da zona sul da capital, há muito me decidi: dispenso os galanteios da minha origem, por cá findarei e bem. Ninguém entre e sai do Caju do mesmo jeito. Entramos apressados, tendo deixado para trás afazeres da rotina. Chegando lá, parece que o tempo adquire outra dimensão, paira distinta gravidade... Então, nos envolve a suspensa atmosfera da morte, dispensamos seu abraço. É um ambiente, solene, o compasso é mais lento, cada qual no interno debate da sua certeza e saudade, só um ser desligado da pulsão não se aperceberá. Observo as correntes de ferro, nas mãos dos coveiros, como é triste a carreira de coveiro! Reluzem sob este sol ainda quente de início de outono. Se no passado serviram para nos oprimir e aprisionar, aqui nos são úteis ferramentas no ato de sepultar. Assim é a criação do humano: imperfeita e útil. No silêncio do adeus, me pergunto qual pode ter sido o ponto germinal, o nexo causal, de toda a nossa indiferença ao que de tão maravilhoso e particular temos. Respostas imediatas, não as tenho. A esperança dos novos dias me carrega. Luciana Portinho

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