Na minha língua pátria.
lucianaportinho 11/03/2011 14:39
O peito emite seus sinais. O golpe foi surdo.  O rosto acusa o abatimento. Até o cabelo dócil se rebelou. Melhor nem se fitar no espelho. Tudo em sua volta fica bem estranho. É um luto, sente como um luto, porém sabe que vai passar. Precisa que passe, é da vida. As lágrimas brotam como o suor goteja em dia quente. Deixa, não prende não! Lembrou-se que um dia lhe ensinaram a se enfiar debaixo de um chuveiro. Água é mesmo um santo remédio. Ah, aqueles banhos de chuva da infância na roça. Era a maior delícia, a meninada com os baldes e bacias de alumínio na cabeça, pés na lama...toc/tec/tic/tuc/toc. No mesmo dia, as portas se abriram. Tinha atendido a uma chamada; fez-se mais confiante. Possibilidades novas, esperanças reanimadas. Desafio para uma virada. Necessitava disto, sabia-se assim. Já sentira medo sim. Hoje, não poderia mais enganar a si própria. Em terreno nenhum. Aprendera que só se superaria encarando, sempre de frente. Primeiro a si. Aos olhos externos era uma mulher segura, passara por bons apertos. Discreta, disfarçava bem. Mas tinha aquela chama interna que em momento algum se apagara. Mantinha-se assim: meio arredia, meio ingênua. Não queria e, por isto, temia transformar-se naquilo que um dia sua mãe tinha vaticinado como regra geral: “uma pessoa calejada pelo tempo”. Naquela chuvosa manhã lera tanto sobre as palavras, a magia das palavras. De como a palavra anuncia a ausência. Luciana Portinho

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