Feios (e belos)
Suzy 04/02/2011 23:41
   Em semanas de Fashion Week, me caiu nas mãos um livro com um título, no mínimo, interessante: “Feios”, de Scott Westerfeld. Lançado em 2005, o best seller conta a história de Tally Youngblood. Uma feia, que vive na Vila Feia, de onde só sairá ao completar 16 anos. Em Vila Feia, os adolescentes ficam presos em alojamentos até o aniversário de 16 anos, quando recebem um grande presente do governo: uma operação plástica como nunca vista antes na história da humanidade. Suas feições são corrigidas à perfeição, a pele é trocada por outra, sem imperfeições ou – nem pense nisso – espinhas, seus ossos são substituídos por uma liga artificial, mais leve e resistente, os olhos se tornam grandes e os lábios, cheios e volumosos. Em suma, aos 16 anos todos ficam perfeitos. “Feios” é, na verdade, uma fábula dos tempos moderno, em que a cirurgia plástica passou quase a ser uma obrigação a ser cumprida cada vez mais cedo. Adolescentes modificam seus corpos ainda nem formados direito para que eles tornem-se “perfeitos”, cópias de outros que nem conhecem, mas admiram. Não por algum feito, uma conquista, mas por uma beleza inventada. Os que não conseguem esse intento terminam segregados eternamente nos subúrbios de Vila Feia. Nunca chegarão à gloria de festas e diversão da Nova Perfeição. O livro – que deveria ser lido por toda adolescente – traz o embate entre o bonito e o feio. Entre os que querem ser perfeitos e nem questionam o fato de passarem pela dolorosa cirurgia e acabarem virando mais um na multidão e aqueles que querem continuar do jeito que são. Para serem belos, perfeitos, fazem qualquer coisa, até passar por cima de seus amigos e colocar em uma posição inferior aqueles que não são seus “iguais”. Essa desvirtualização dos valores (ah, e para quem não lembra, existem valores que não são monetários) reflete o caminho que toma nossa sociedade. Exagero? Quantas modelos já morreram anorexias? Quantas atrizes estão que são só pele e osso, como diziam os mais antigos? Como multiplicam as revistas de dieta? Aliás, é por “dieta” na capa, que o sucesso de vendas está garantido. A beleza é importante. Diria, como Vinicius, que ela fundamental. Mas a beleza em suas muitas formas. Pouco interessa se o cabelo for totalmente pranchado, se os olhos forem azuis artificiais, se o corpo não tiver um milímetro de gordura, se naquele ser não habitar um caráter, uma bela alma. Se não forem capazes de respeitar os idosos, amar uma criança, ajudar os que mais precisam. A beleza importante é aquela que reflete o que somos, que traz nossos amigos para perto mesmo quando estamos gordos, de olheiras e nariz vermelho de tanto chorar. Que faz ganhar um “eu te amo” pela manhã antes mesmo de lavar o rosto, imagine de colocar batom. E aquela que faz nunca sentir-se solitário, mesmo quando se está sozinho.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Suzy Monteiro

    [email protected]

    BLOGS - MAIS LIDAS