Vida que vai, vida que vem.
lucianaportinho
09/02/2011 21:13
Tarde de verão, pleno verão. As primeiras águas já baixaram, o rio retorna ao seu leito. Ao leito que no último século disseram que era dele. Se há duas semanas corria barro puro, agora o Paraíba já escorre na sua coloração natural.
A cidade neste pedaço se estende nas duas margens. A brisa que sopra é mais do que ventinho comum. Uma constante. É o vento nordeste que alivia as tensões de sua gente.
Agora, como em todos os fins de jornadas, o povo faz parada a caminho de casa. E fica bem. Este povo é manso, nem se incomoda de todo dia esperar sua lotação.
João é um destes. Apoiado na mureta do rio aguarda calmamente que Rita desponte naquela esquina da beira rio. Morena das coxas bem grossas, em seu vestido florido, sempre é uma alegria observá-la se aproximar. É uma rotina que faz com lento prazer. Nestas horas, a vida se esvai pelo cansaço de mais um dia. Retorna pelas canelas da mulher. A cidade até que fica mais bonita. Ter Rita ao seu lado, sentir seu bafo, logo refaz sua moral.
Os parentes de João bem que fizeram uma força para que ele fosse pra capital, coisa que nem nunca ficou tentado. Pobre nasceu, pobre ele se sabia, lá não iria subir na vida não. Iria era subir pra morar num morro daqueles. Aqui não, nem morro tem! Terra reta, planície das boas. É como Rita falava e repetia: “melhor ser duro por estas bandas homem! Aqui, pelo menos a gente tem espaço. Quer coisa melhor do que o nosso quintalzinho? Poder ter um pé de árvore, umas galinhazinhas... chão de terra sim, e daí?! Pormos nossas cadeiras, na porta da casa, assistir ao vai e vem dos vizinhos, se perder no falatório da birosca. Olhar pro céu, João! E se espantar com as estrelas; eu e você, João, é tudo de bom”.
Luciana Portinho