O que é ser racional?
bethlandim 23/02/2011 23:31

Estes dias fiquei muito envolvida ao ler um conto de William Shakespeare intitulado “O cachorro e o coelho”. E como em cada conto, podemos refletir sobre um ponto, hoje gostaria de fazer uma reflexão sobre a capacidade humana de julgar o próximo.

Vamos ao conto:

“Eram dois vizinhos. Um deles comprou um coelho para os filhos. E os filhos do outro vizinho também quiseram um animal de estimação. Então o homem comprou um filhote de pastor alemão. Ao conversarem sobre seus animais de estimação os dois vizinhos debateram:

- Seu cão vai comer o meu coelho!

- De jeito nenhum. O meu pastor é filhote. Vão crescer juntos, "pegar" amizade...

E, parece que o dono do cão tinha razão. Juntos, coelho e cão cresceram e se tornaram amigos. Era normal ver o coelho no quintal do cachorro e vice-versa. As crianças eram felizes com os dois animais.

Eis que o dono do coelho foi viajar com a família e o coelho ficou sozinho.  No domingo, à tarde, o dono do cachorro e a família tomavam um lanche quando, de repente, entra o pastor alemão com o coelho entre os dentes, imundo, sujo de terra, morto.

Quase mataram o cachorro de tanto agredi-lo, o cão levou uma surra! Dizia o homem:

- O vizinho estava certo, e agora? Só podia dar nisso! Mais algumas horas e os vizinhos iam chegar. E agora?! Todos se olhavam. O cachorro, coitado, chorando lá fora, lambendo os seus ferimentos.

- Já pensaram como vão ficar as crianças? Não se sabe exatamente quem teve a idéia, mas parecia infalível:

- Vamos lavar o coelho, deixá-lo limpinho, depois a gente seca com o secador e o colocamos na sua casinha. E assim fizeram. Até perfume colocaram no animalzinho. Ficou lindo, parecia vivo, diziam as crianças. Logo depois ouviram os vizinhos chegarem. Notaram os gritos das crianças.

- Descobriram!

Não passaram cinco minutos e o dono do coelho veio bater à porta, assustado. Parecia que tinha visto um fantasma.

- O que foi? Que cara é essa?

- O coelho, o coelho...

- O que tem o coelho?

- Morreu!

- Morreu? Ainda hoje à tarde parecia tão bem.

- Morreu na sexta-feira!

- Na sexta?

- Foi. Antes de viajarmos as crianças o enterraram no fundo do quintal e agora reapareceu!”

A história termina aqui, o que aconteceu depois, não importa. Nem ninguém sabe. O que importa é fazermos uma reflexão séria a partir dela. O personagem que mais cativa nesta história toda, o protagonista da história, é o cachorro. Imaginemos o coitado, desde sexta-feira procurando, em vão, pelo seu amigo de infância. Depois de muito farejar, descobre o corpo, morto e enterrado. O que faz ele? Provavelmente com o coração partido, desenterra o pobrezinho e vai mostrar para os seus donos. Provavelmente estivesse até chorando, quando começou a levar pancada de tudo quanto é lado.

O cachorro é o herói. O bandido é o dono do cachorro. O ser humano. Sim, nós mesmos, que não pensamos duas vezes. Para nós o cachorro é o irracional, o assassino confesso.

A dura lição que podemos tirar dessa história é que nós seres humanos temos a tendência de julgar os fatos, sem antes verificar o que, de fato, aconteceu. Quantas vezes tiramos conclusões erradas das situações e nos achamos donos da verdade? Histórias como essa, são para pensarmos bem nas atitudes que tomamos. Qualquer tolo pode criticar, condenar e reclamar - e muitos o fazem.

Mas é preciso caráter e auto-controle para ter compreensão e perdoar. Além disso, temos que parar de achar que um banho, um secador de cabelos e um perfume disfarçam a hipocrisia, o “ser irracional” desconfiado que temos dentro de nós. Temos que parar de julgar os outros pela aparência! Maquiada.

No dia em que pararmos de olhar as pessoas e julgá-las de acordo com os parâmetros dessa sociedade fluida, consumista e estereotipada, poderemos conviver mais felizes. Coitado do cachorro! Coitado do dono do cachorro! Coitados de nós, animais racionais!

Quem tem um animal de estimação talvez entenda como aprendemos com eles, pois nos ensinam valores que a vida moderna, às vezes nos faz esquecer, valores que precisam ser sempre validados, tais como:

FIDELIDADE, AMOR, COMPANHEIRISMO E, ACIMA DE TUDO, CONFIANÇA!

Com afeto,

Beth Landim

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Elizabeth Landim

    [email protected]

    BLOGS - MAIS LIDAS