Ferreira Gullar Imperdível!
bethlandim 11/01/2011 01:06

Exposição em cartaz no Rio de janeiro até 13 de março de 2011 presta homenagem aos 80 anos de Ferreira Gullar.

Nascido em São Luis do Maranhão, em 1930, Ferreira Gullar, procurou apontar em sua obra a problemática da vida política e social do homem brasileiro.

De uma forma precisa e profundamente poética traçou rumos e participou ativamente das mudanças políticas e sociais brasileiras, o que lhe levou à prisão juntamente com Paulo Francis, Caetano Veloso e Gilberto Gil em 1968 e posteriormente ao exílio em 1971 .

Poeta, crítico, teatrólogo e intelectual, Ferreira Gullar entra para a história da literatura como um dos maiores expoentes e influenciadores de toda uma geração de artistas dos mais diversos segmentos das artes brasileiras.

A exposição "Ferreira Gullar 8 e 80" está instalada no Museu Nacional de Belas Artes. Duas frases de Gullar expressam bem sua personalidade: "Ser feliz é o que sempre quis, é o que queremos" e "Nunca tenho ou tive planos. Eu improviso."

Talvez seja isso, a busca da felicidade no improviso, que traga sempre este estilo irreverente   porém sensível, do poeta. Para mim, Gullar não tem idade, tem versos...

Deixo para vocês um trecho do poema Poema Sujo - um fragmento: "Velocidades"

         E por ser pouco era muito,          que pouco muito era o verde fogo da grama, o musgo do muro, o galo que vai morrer, a louça na cristaleira, o doce na compoteira, a falta de afeto, a busca do amor nas coisas.

                 Não nas pessoas: nas coisas, na muda carne das coisas, na cona da flor, no oculto falar das águas sozinhas:                          que a vida passava por sobre nós,                          de avião.

Não tem a mesma velocidade o domingo          que a sexta-feira com seu azáfama de compras          fazendo aumentar o tráfego e o consumo          de caldo de cana gelado, nem tem          a mesma velocidade a açucena e a maré com seu exército de borbulhas e ardentes caravelas          a penetrar soturnamente o rio          noutra lentidão que a do crepúsculo          que, no alto, com sua grande engrenagem escangalhada moía a luz.                   Outra velocidade tem Bizuza sentada no chão do quarto          a dobrar os lençóis lavados e passados          a ferro, arrumando-os na gaveta da cômoda, como                 se a vida fosse eterna.                         E era naquele seu universo de almoços e temperos          de folhas de louro e de pimenta-do-reino          mastruz para tosse braba, universo          de panelas e canseiras entre as paredes da cozinha          dentro de um surrado vestido de chita, enfim,          onde batia o seu pequenino coração.                     E se não era eterna a vida, dentro e fora do armário,          o certo é que tendo cada coisa uma velocidade                    (a do melado escura, clara a da água a derramar-se)          cada coisa se afastava desigualmente          de sua possível eternidade.                   Ou se se quer desigualmente          a tecia sua própria carne escura ou clara          num transcorrer mais profundo que o da semana.                   Por isso não é certo dize          que é no domingo que melhor se vê a cidade          - as fachadas de azulejo, a Rua do Sol vazia          as janelas trançadas no silêncio -                   quando ela parada                   parece flutuar...

           e a dica da Exposição.

Com afeto,

Beth Landim

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