APENAS PERMITA-SE...
bethlandim 04/01/2011 20:19

Essa semana, peço licença a Danuza Leão para citar essa história e a partir dela refletir com meus amigos leitores sobre a armadilha das mudanças drásticas de coisas que não precisam de alteração, apenas aprimoramento.

“Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sorvete de sobremesa, contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido. Uma só. Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa. Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação. O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano. A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade. A gente sai pra jantar, mas come pouco. Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons. Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil'). Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta. Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar. E por aí vai. Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação... Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e, existencialmente, sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...

Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'. Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos. Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito. Recusar prazeres incompletos e meias porções. Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim: 'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'... Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.

Um dia a gente cria juízo. Um dia. Não tem que ser agora. Por isso, garçom, por favor, me traga: cinco bolas de sorvete de chocolate, um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order', uma caixa de trufas bem macias e o Richard Gere, nu, embrulhado pra presente. OK? Não necessariamente nessa ordem. Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago...”

Esse texto nos convida a refletir sobre a necessidade atual de nos liberarmos das nossas culpas e sermos mais autênticos em nossas escolhas. A vida corrida, o estresse que nos visita, todas as nossas atividades diárias sejam elas familiares ou profissionais nos acumulam de pressões que muitas vezes não sabemos como lidar com as mesmas.

Culpa, aliás, é uma palavra que persegue em demasia os sentimentos das pessoas na atualidade. Culpa por fazer, culpa por não fazer, por fazer de menos, por ter pouco tempo, por desperdiçar o tempo, parece que vivemos em conflito constante e a culpa nos atormenta tirando o prazer dos nossos sentimentos e sentidos. Não que tenhamos que agir impensadamente, mas uma vez conscientes de nosso fazer, não podemos dividir a experiência de vida com a culpa. Devemos ter sempre em mente que quem não faz, nunca erra, porque nem se dá o direito de tentar. O medo nos imobiliza, a culpa nos faz reviver um passado sem aprendizado.

Como dizia Franklin Roosevelt: “O único limite às nossas realizações futuras são as nossas dúvidas no presente.” Portanto, não alimentemos meias porções de nada em nossas vidas, sejamos inteiros em pensamentos, sentimentos e atitudes. Tenhamos fé, acima de tudo, pois TUDO PASSA. Aliás, esta é das  frases que mais admiro: TUDO PASSA! Tanto nos momentos de tristeza quanto os momentos de alegria.....

Com afeto e confetes,

Beth Landim

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