Com tanto de África em cada um...
lucianaportinho 14/11/2010 01:04
Campos recebeu na VI Bienal do Livro, dois dos mais expressivos escritores africanos da atualidade: Mia Couto e José Eduardo Agualuza. Sob a mediação da fantástica Rita Maia, exemplo do vigor intelectual da mulher campista, teve início a travessia pelo Atlântico. [caption id="attachment_359" align="aligncenter" width="300" caption="Ft. Luciana Portinho"][/caption]

E como foi interessante, se deixar levar nas palavras dos dois e penetrar um pouquinho neste continente que, assim como o nosso, só ganha destaque no noticiário internacional para alardear alguma desgraça. Compreendendo que a grande literatura é aquela que nos interroga e nos coloca preocupações, Mia Couto, afirma que esta tem uma obrigação. Para um mundo que nos tempos recentes vem sistematicamente sendo homogeneizado, com suas diversidades sendo gradativamente sufocadas, o discurso de tolerar a diversidade ainda é pouco, muito pouco. Na mesma linha de raciocínio Agualuza observa o quanto a literatura brasileira foi saindo do Brasil, nas últimas décadas. Isto também pelo fato de como o pensamento mágico é reprimido, com a prevalência da sabedoria sobre a crença, da objetividade sobre a subjetividade. Ao mesmo tempo em que a conversa foi densa, nos introduzindo, em um conjunto de preocupações de cunho histórico e até filosófico, também nos falou deste âmbito da criação. Da dimensão de uma oralidade que pode ser treinada e aguçada. Da necessária imersão no mágico. Daquele momento do ouvir. Ouvir contar uma história. Escutar a própria vida. Deixar o texto se manifestar. Esperar que a narrativa aponte para o que ela virá a ser. E que os personagens nos conduzam. Já ao fim do bate papo, questionados pela platéia, todos os dois comungam da mesma idéia de que vivemos um momento histórico único e privilegiado de paz, com um transito intenso entre pessoas dos países da África e do Brasil. Também de que a lusofonia é um processo construído no nosso dia a dia. E, de que os elementos estão em curso. Mais do que a nova lei ortográfica, estes elementos são intrínsecos às raízes históricas e ao caldo cultural comum.

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