Estou precisando comprar um cortinado. Ah, você é mais jovem e não sabe o que é cortinado? Vou explicar: é um mosquiteiro. Bem, vamos de uma forma mais simples. É uma “armadura” contra mosquitos. As mães colocam cortinado em torno do berço do bebê. Prendem por debaixo do colchão e o filhotinho fica lá, protegido por aquela tela. O máximo que acontece é um ou outro, irritado por não conseguir passar, tocando, enlouquecido, uma sinfonia. Antes, o cortinado era muito usado, até para as pessoas já adultas. Era quase um sacrilégio, a violação de um templo quando algum mosquito resolvia furar a barreira e entrar no solo sagrado junto com o “protegido”. Aí, era um tal de “corre, entrou um mosquito pelo cortinado”. E taca a caçar o inseto até matá-lo. Havia (nem sei se existe ainda) cortinados de casal e de solteiro, além dos para bebês, que resistem até hoje. Na época de ouro dos cortinados, havia uns produtos tipo “Boa-noite” – que minha irmã explicou outro o dia, que ainda é usado por aí –, cujo o cheiro tonteia qualquer ser humano, e o inseticida Flit, que o santo google acaba de me mostrar que era da Esso e chmava-se “Super Flit”. Podiam até resolver (sei lá, faz tempo), mas eram um terror, ao ponto de todo mundo ter que fechar a casa e só voltar depois que o cheiro passasse. Você ficava do lado de fora, esperando o cheiro terrível passar. Os mosquitos do quintal quase te matavam e, quando retornava à casa, nem percebia mais nada. Hoje, lá em casa está com tanto mosquito, que quem olha meus braços e costas acredita que vim de uma guerra ou de um namoro pra lá de caliente. Os mosquitos atacam mesmo. E não tem essa de só à noite não. Tem três turnos de ações. Mas durante a noite é pior. Passo parte dela sacudindo para não pousarem na minha filha. Revoltados, eles investem contra mim, sem dó nem piedade. Ah, não achem que sou doida. Uso spray, mas acredito que tem, sobre eles, o mesmo efeito de Loló. Saem meio tontinhos, alegres, recuam, porém voltam tempos depois, acho até que para tentar uma segunda dose. Há, também, aqueles aparelhinhos elétricos, mas ninguém me convence de que eles não usam uma máscara protetora. Afinal, os tais aparelhos só fazem mal a crianças com alergia. Da minha infância, lembro de um cortinado, cor de rosa, com o qual minha mãe cobria o berço (revelações: dormi no berço até grande). Também tinha um grande na cama dela, onde eu amava de esconder e fica ali, duplamente protegida. Com o tempo, a tecnologia e a modernidade, o cortinado foi sendo deixado de lado – tornou-se “coisa de roça” -, mas, sinceramente, preciso urgente comprar um.