A mágoa de Arnaldo
Suzy 05/02/2010 15:19
A Folha traz hoje uma matéria do jornalista Alexandre Bastos com o deputado federal Arnaldo Vianna (PDT), onde ele descarta possibilidade de dobradinha com o ex-prefeito Alexandre Mocaiber (PSB) nas eleições deste ano. No blog do mesmo jornalista (leia aqui). Arnaldo também fala sobre já “estar acostumado com aliados passarem para outro lado”. Em novembro do ano passado, Arnaldo me deu uma longa entrevista em seu apartamento. Não fazia as brincadeiras características e demonstrava bastante mágoa em relação a várias situações e pessoas, especialmente Mocaiber, seu amigo de infância. Abaixo, reproduzo a entrevista. Como se é possível perceber, não foi um desabafo de momento. O texto é longo, mas vale a pena ler. Entrevista com Arnaldo Viana Foto Silésio Correa (5) Entrevista à Folha
Folha – Hoje, um ano depois da eleição, o que o Senhor acha que deu errado na sua campanha? Arnaldo – Várias coisas. Vou revelar para você pela primeira vez. Guardei para mim, porque, se eu falasse, daria um problema muito sério. Não tinha condições físicas de fazer a campanha, tanto que, logo depois, fui internado e operado. Fiz a campanha toda com dificuldades de saúde. Tive um problema sério que evoluiu para pancreatite. Os médicos que me acompanhavam, que eram Maron e Jomar, pediam o tempo todo para que eu me afastasse da campanha, mas não podia fazer isso. A doença me tirou um pouco da participação de corpo a corpo, me tirou um pouco do trabalho da articulação. Já deixei de participar de eventos na campanha por estar passando mal. Me lembro que, em um desses debates, antes de descer na televisão, tive que parar o carro para vomitar. Isso me atrapalhou, como me atrapalhou o fato de que não tinha o mesmo dinamismo de outras campanhas. A segunda parte foi a traição e hoje está muito claro quem traiu É só olhar a composição da Câmara. E quem traiu paga. Arnaldo não está se movimentando para tirar Altamir (Bárbara, vereador do PSB, que corre risco de cassação). Jorge Rangel me traiu e outros. Cito esses dois porque falei na cara deles. Altamir, para poder arranjar uma briga comigo, um dia, em uma reunião aqui na minha casa, chegou e, vendo Ilsan, disse: com essa mulher eu não participo da reunião. Respondi: você pode falar isso na sua casa. Na minha entra quem eu quero. Como fala isso na minha casa? Falta de respeito. Outra questão foi falta de recursos.Talvez, em virtude daquelas denúncias absurdas do senhor Garotinho, as pessoas não quissessem me ajudar, pensando que eu tinha tanto dinheiro fora, iria precisar como? Tirasse dinheiro dessa conta milionária que ele tem nos Estados Unidos e investisse na campanha. Isso também me atrapalhou, porque quantas pessoas acreditaram nas mentiras do senhor Garotinho? E só pude provar depois. Durante muito tempo também, diziam que eu não poderia ser candidato. No final do segundo turno que foram ver que isso não tinha nada. E hoje o grupo de Garotinho tenta de novo. A grande preocupação dele é Arnaldo. Pensa o tempo todo em mim. Talvez porque eu nunca tenha feito o jogo dele. Isso também foi uma outra questão. A compra de votos também foi terrível. E isso foi demonstrado por denúncias que chegaram à Polícia Federal, mas o delegado optou por não chamar a prefeita para depor. Hoje é muito difícil fazer campanha na nossa região. Antigamente as pessoas entravam em uma campanha porque admiravam um candidato. Hoje em dia é tudo por dinheiro. Os líderes de equipe pedem determinadas quantias para trabalharem e muitos deixaram de trabalhar para mim porque não tinha dinheiro. Muitas pessoas pensam assim: Arnaldo foi prefeito por dois mandatos, deve estar muito bem. Não estou não. O que eu ganhava na Prefeitura era o meu salário. E do meu dinheiro que ganhava, uma parte usei para me defender. Pagando advogados para me defender das mentiras de Anthony Garotinho. Depois que saí da Prefeitura, passei por um período de muita dificuldade. Disso tudo, tenho uma mágoa muito grande, de alguém que sempre fui muito amigo. E que sabia que estava me prejudicando dizer que era amigo dele, perdi alguns votos por dizer que era amigo do doutor Alexandre Mocaiber. E em que ele me ajudou? Em que Alexandre Mocaiber me ajudou?
Folha – O Senhor tem essa característica de não negar seus amigos. Farei a mesma pergunta que fiz para Ilsan. Na campanha, a prefeita Rosinha, em determinado momento, pediu à Justiça que fosse retirado seu "sobrenome" Garotinho. Ela alegou, mais tarde, que era de melhor identificação usar apenas Rosinha. No caso de Ilsan, o senhor citou essa reunião. Várias pessoas do PSB alegaram essa proximidade, como o motivo de afastamento do senhor. Como é sua relação com Ilsan? Arnaldo — É uma relação muito madura. Ela hoje tem uma pessoa que vive com ela, eu conheço. Quem eu gosto está aqui (apresenta a pedagoga Beatriz). Eu não sei ser Judas. Não vou negar que tive uma convivência com Ilsan. Tive um filho maravilhoso. Quero que ela seja muito feliz. Tenho por ela respeito. E ela tem por mim. Somos hoje grandes amigos. Não admito que ninguém chegue perto de mim para falar mal dela, assim como sei que ela faz comigo também.
Folha — O PDT já definiu os pré-candidatos a deputado estadual aqui em Campos? Arnaldo — Ainda não. Falam que seria Ilsan, mas não será. Um dos nomes seria Edilson Peixoto, mas ...
Folha — Ele agora está com Garotinho. Arnaldo — O que não me estranha. Para quem já passou por Zezé Barbosa, passou por Rockfeler, passou por Garotinho, por Sérgio Mendes, por Garotinho de novo, passou por Arnaldo, passou por Campista e por Mocaiber, agora está com Rosinha. Não é surpresa para mim. Eu sei que ele sempre foi uma pessoa: Zezé Barbosa. Isso ele nunca escondeu. A gratidão que ele tem é por Zezé Barbosa. E Paulo Albernaz. Mas, ele me dizia absurdos nesse período de afastamento de Garotinho. Não sei como poderá olhar para mim e desdizer tudo. É a mesma coisa se você me vir ao lado de Garotinho. Pode chegar para mim e dizer: Arnaldo tudo que você falava de Garotinho era mentira? Nunca mais você vai me ver ao lado de Garotinho. Mamãe está lá entre a vida e a morte. Sei que ela não faria isso, mas nem se ela me pedisse. É difícil falar isso, mas eu sei o que aguentei. E o que mais me doeu foi naquele episódio do dinheiro, que provei que não tinha nos Estados Unidos e depois ele disse que tinha sido na Alemanha e que não tinha sido depositado por mim, tinha sido por Caio. E minha defesa foi a certidão de nascimento de Caio. No ano em que ele disse que Caio depositou, Caio não havia nascido. Ele não tinha o direito de fazer isso. Eu nunca desrespeitei Wladimir. Muito pelo contrário, tanto é que Wladimir gosta de mim. Em várias situações eu defendi Wladmir. Ele me chama até hoje de tio.
Folha — O senhor falou dessa mágoa com Mocaiber e sobre pessoas que trairam o senhor, sobre isso... Arnaldo — ... Nossa amizade vem desde o colégio primário. Quando a gente era molecote, de calças curtas, eu ia na casa dele e ele ia na minha casa. A mãe dele me recebia lá e a minha o recebia aqui. Quando chamei Alexandre para ser secretário de Saúde ele não tinha nenhum experiência política. Eu briguei com minha irmã, quando ele ganhou a vaga de vereador e Rodrigo (sobrinho de Arnaldo) perdeu. Sabe quem coloquei para coordenar a campanha de Alexandre? Ilsan. Imagine como Rodrigo (sobrinho de Arnaldo) ficou. Era uma amizade de muitos anos. Outro diz soube que ele esteve em Brasilia com Alexandre Cardoso. Por que não me ligou, não ligou lá para o gabinete? Me dói isso. Porque não é uma amizade de 10 anos. É uma amizade de 50 anos. Por que eu iria colocar em risco, naquela época (campanha de 2006), apoiar Alexandre? Ele ganhou uma vaga porque era presidente da Câmara? E como ele se tornou presidente da Câmara? Primeiro, como ele se tornou vereador, para tornar-se presidente da Câmara e assim a Justiça colocá-lo naquela situação de interinidade? Não havia consenso dentro do partido. Briguei no Rio com Lupi para que fosse Alexandre o candidato a prefeito. O candidato seria Roberto (Henriques, atual secretário de Governo do município). Falei que se não fosse Mocaiber, eu sairia do partido. Aí Mocaiber, em um gesto magnânimo, fala a bobagem de que poderia fazer uma composição e Roberto vir como vice. E deu no que deu. Aliás, Roberto é outro que não pode olhar na minha cara e dizer como pode hoje estar do lado de Garotinho. Você acha que sou raivoso quando falo de Garotinho? Tinha que ver Roberto Henriques há uns três anos. E hoje está lá e pretende ser candidato. Mas as pessoas não observam uma coisa: Garotinho vai fazer mais uma vez o que já fez: lançar um monte de candidatos e não eleger nenhum. Serão vários candidatos a deputados estaduais, como serão vários candidatos a deputados federais com o objetivo de atrapalhar minha candidatura. Será que Alexandre não está vendo isso? ...
Folha — O senhor acha que a história recente da política de Campos é uma história de traições? Arnaldo — É. Cada vez pior. No passado a gente não via tanto assim. No passado, tinha grupos. Tinha o grupo de José Alves, era firme com José Alves. Tinha o grupo de Alair (Ferreira), era firme com Alair. O de Zezé, de Rock, a mesma coisa. Agora não tem mais isso. O cara está com você hoje, amanhã não está mais. E trai por qualquer coisa. Basta estar em dificuldade financeira, chegar alguém oferecer algo. Isso é o que mais acontece. Está muito difícil ficar na política. Algumas vezes me enoja. Já me deu vontade desistir. Mas não posso. Iria induzir a outros a fazerem a mesma coisa e aí ficaria nas mãos somente de quem faz sujeira? Por isso vamos lutando, vamos resistindo.

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    Suzy Monteiro

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