Polêmica troca do comando do IFF em Cabo Frio
Christiano 09/01/2010 11:07

A polêmica e inesperada intervenção da gestão do IFF em Cabo Frio tem tido desdobramentos a todo o dia. Cada lado dá a sua versão, mas parece claro que a mudança não foi planejada com antecedência e que teve origem política, o que é preocupante para uma instituição educacional da importância e envergadura do IF Fluminense.

A exoneração do diretor César Dias por parte do comando sediado em Campos gerou uma série de manifestos virtuais na Internet por parte dos alunos do campus de Cabo Frio. O blog Tribuna Mequetrefe (leia aqui e aqui) se colocou em estado de luto e o Sapientia (aqui) também protestou.

Veja aqui e aqui, matérias da Folha da Manhã sobre o assunto, ouvindo todas as partes envolvidas, em especial a reitora, Cibele Daher Monteiro, e o diretor destituído, César Dias. Leia abaixo a versão do Grêmio Estudantil e a versão oficial, publicada no site do IFF, e tire as suas próprias conclusões.

 

Carta publicada pelo Grêmio Estudantil (veja aqui, no Blog do Cotias):

CARTA DE REPÚDIO Golpes políticos são marcados por atitudes repugnantes. No Instituto Federal Fluminense não é diferente. Na tarde de 30 de dezembro deste 2009, às vésperas do final do ano, somos surpreendidos com a notícia de que a Reitora da nossa Instituição destituíra o diretor do nosso campus, Cabo Frio, e sinalizara a transferência de toda a equipe de volta para o campus sede. Em portaria assinada no dia 28/12/2009 e publicada no Diário Oficial da União do dia 30/12/2009, Cibele Monteiro exonera o Professor César Luiz de Azevedo Dias da direção do campus, e, logo em seguida, nomeia a até então Pró-Reitora de Ensino, Romilda Suinka, para o cargo de diretora. No meio de toda essa reviravolta, uma explicação foi apresentada para que as atitudes de Cibele adquirissem algum sentido. E a explicação é mítica: a Reitora alega que no decorrer das eleições para o Conselho Superior, ocorridas no último 10 de novembro, quando, ressalte-se, os candidatos apoiados pela Reitoria não foram os escolhidos nem pelos alunos nem pelos servidores do campus Cabo Frio a direção do campus teria manipulado os alunos em suas decisões e votos, fator pelo qual o diretor César e sua equipe deveriam ser afastados de suas funções. O problema reside no fato de que a informação não procede como foi definido na Nota de Esclarecimento divulgada por este Grêmio Estudantil. Logo, cai por terra o argumento da Reitoria. Diante de tais fatos, pairam algumas indagações: por que a destituição do Professor César? Qual o real motivo? Por que essa decisão é tomada justamente nessa época do ano, quando a comunidade acadêmica está completamente dispersa e impossibilitada de exercer seu papel de repúdio? Aliás... onde está a democracia nessa decisão tomada pela Reitora? Cibele aniquila o direito democrático de alunos, funcionários e professores do campus ao publicar suas portarias tirânicas sem ao menos fazer uma consulta a todos nós. Perante tudo isso, a impressão que nos fica é de que Cibele Monteiro cultiva uma picuinha política com nosso campus e nosso diretor. Amanhã entra em vigor a autonomia dos campi. Ao destituir o Professor César da direção do campus Cabo Frio, transferir sua equipe para o campus sede, e preencher a vaga com Romilda Suinka, - tudo feito em 30 de dezembro, a dois dias das novas regras que impossibilitariam essa manobra - Cibele Monteiro monta sua conjuntura política. Quando o processo eleitoral para o cargo de diretor do campus for iniciado, a única pessoa que cumpre todos os requisitos para se candidatar será Romilda. Transferindo César Dias e sua equipe para o campus Campos, a Reitora impede que qualquer um deles seja candidato ao cargo. Daqui a quatro anos, quando houver novas eleições para diretor do campus, novamente a única candidata apta será Romilda Suinka. Ao se utilizar do Instituto e de porcas artimanhas políticas para resolver seus problemas pessoais, Cibele revela uma faceta inaceitável para o cargo que ocupa. Nós, alunos, não podemos sucumbir a esse tipo de caráter déspota. Seja qual for o motivo da Reitoria para a exoneração do Professor César Dias da direção, por que não mantê-lo em Cabo Frio e deixar que o corpo do campus decida, em eleições diretas, quem deve ocupar o cargo? Para uma Reitoria que teve um lapso democrata, essa deveria ser uma atitude digna. O que não podemos e não faremos é deglutir oito anos de Romilda Suinka goela abaixo. É inaceitável. O Instituto pertence àqueles que nele estão. Isso inclui alunos, professores e funcionários. A democracia deve ser respeitada. Não toleraremos atitudes arbitrárias. O comportamento da Reitora Cibele Monteiro nos remonta a abril de 64. Se os tempos de ditadura voltarem para o Instituto Federal Fluminense, o que nos conforta é que, apesar da luta, a democracia vence no final da história. E, além do mais, a luta não nos preocupa, estamos preparados. Se preciso for, lutaremos com gosto. Junto com professores e funcionários do nosso campus, nós, alunos, elegeremos democraticamente a direção que queremos. Custe o que custar. O que não podemos é deixar que nossa fábrica de futuros se torne um brinquedo na mão de políticos travestidos de educadores. Cabo Frio, 31 de Dezembro de 2009 Thomas Speroni Presidente do Grêmio Estudantil Fernanda Ramos Diretora de Imprensa --------------------------------------------------------- NOTA DE ESCLARECIMENTO O Grêmio Estudantil do Instituto Federal Fluminense– Campus Cabo Frio traz esclarecimentos em relação às acusações da Reitoria quanto ao comportamento dos alunos desse campus nas eleições para o Conselho Superior, ocorridas em 10 de novembro do corrente ano. A Reitoria diz que a direção do campus Cabo Frio manipulou, durante o processo eleitoral, os alunos do campus no tocante aos seus votos e decisões. O Grêmio Estudantil, como entidade representativa dos alunos, rechaça essa afirmação. É MENTIRA. Em momento algum os alunos foram abordados por qualquer funcionário da direção para tratar sobre preferências e direcionamentos políticos nas eleições para o Conselho. Não fomos influenciados por qualquer postura ou atitude da direção do campus. Ao contrário, visto que estes assumiram um caráter democrático, permitindo-nos e criando condições para articulação política com outros campi e liberdade total para o diálogo entre a comunidade acadêmica. Cabe esclarecer: o que nos espanta é esta postura ironicamente democrata da Reitoria. Fomos, sim, lesados no processo eleitoral. Mas pelo órgão que comanda a direção geral do Instituto, visto que fomos informados das eleições para o Conselho Superior em um curtíssimo espaço de tempo. Este desrespeito foi, inclusive, comentado em um blog independente e não-oficial, redigido por alunos. Objetivando: a afirmação da Reitoria, de que fomos manipulados pela direção de nosso campus no processo eleitoral do Conselho Superior, é falsa. Cabo Frio, 31 de Dezembro de 2009 Thomas Speroni Presidente do Grêmio Estudantil Fernanda Ramos Diretora de Imprensa

 

Leia abaixo a versão oficial, publicada no site do IFF (veja aqui), e leia aqui matéria do mesmo site que repercute uma reunião realizada pela reitora com os alunos, após a repercussão negativa do caso em Cabo Frio:

 

Reitora nomeia nova diretora para o campus Cabo Frio

             A professora Romilda  de Fátima Suinka de Campos é a nova Diretora do Campus Cabo Frio. Ela foi nomeada pela Reitora Cibele Daher no último dia 30 e irá substituir o professor César Dias, que também havia sido nomeado pela Reitoria para o cargo em 2008.

            Segundo a Reitora,  a professora Romilda é residente da região dos Lagos e teve uma contribuição expressiva para o sucesso do Núcleo Avançado de Arraial do Cabo, o que foi um passo decisivo para que o então CEFET Campos se credenciasse a ter uma unidade avançada e, mais tarde, um campus na região.

            “Após ter contribuído para a implantação do campus Cabo Frio, a professora Romilda foi convidada a atuar como Pró-Reitora de Ensino do IFF, ação que ela desempenhou com altivez e competência, tendo trabalhado intensamente para a conclusão do Estatuto e do PDI, organizando os debates com a comunidade interna que resultaram na versão final do documento, do Termo de Metas e Compromissos, do Processo Seletivo Unificado, entre outras ações estratégicas para a instituição.Por isso, é justa e necessária a sua nomeação para o campus que ajudou a conquistar na sua origem com o seu trabalho dedicado e dinâmico.”afirma Cibele.

            A Reitora afirma que tomou a decisão para que o campus Cabo Frio  passe a ser gerido de forma mais integrada com os demais campi. “ Para que nosso Instituto se fortaleça verdadeiramente é preciso que aprendamos a atuar de forma sistêmica, o que só é possível quando se estabelece uma relação de parceria e confiança, o que, infelizmente, não vinha acontecendo. É preciso trazer o campus Cabo Frio para mais próximo, realizarmos um trabalho de forma mais conjunta, o que, sem dúvida, vai tirar o campus do isolamento no qual se encontra.  Agradeço ao professor César Dias pela contribuição, mas é hora de inciarmos o novo biênio com novas perspectivas neste sentido”, diz Cibele. 

            Cibele afirma que a decisão não vai prejudicar em nada servidores e alunos do campus e acredita que,a partir de agora, o diálogo estará mais aberto. “É importante valorizar a relação igualitária entre as unidades de uma mesma instituição, valorizando a todos e a todas, indiscriminadamente, elevando a participação dos alunos e servidores” afirma.

            A Reitora esclarece também que o campus Cabo Frio ainda não passou por um processo eleitoral porque a Lei que regulamenta os Institutos determina que isto só deve acontecer nos campi que têm mais de 5 anos de funcionamento. “Desejo à professora Romilda de Fátima Suinka de Campos e à comunidade de Cabo Frio muito sucesso na condução dos trabalhos a partir de agora” finaliza Cibele.

 Perfil da Nova Diretora

Romilda Suinka de Campos, 49 anos, é formada em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Mato Grosso, Mestre em Planejamento Regional e Gestão de Cidades pela Universidade Cândido Mendes e Doutoranda na área de Educação pela UFRJ. Ingressou no CEFET do Mato Grosso em 1996 e foi transferida para o CEFET Campos em 2001. Atuou como Gerente de Ensino do Campus Cabo Frio, ocupou o cargo de Pró-Reitora de Ensino do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense e é Avaliadora Institucional do MEC.

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    Christiano Abreu Barbosa

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