A epidemia da desinformação
Christiano 20/08/2009 17:48
Segue abaixo brilhante artigo escrito pelo médico Nélio Artiles, sobre a gripe suína, publicado na Folha da Manhã de hoje. Concordo em gênero, número e grau.   A epidemia da desinformação

 Vivenciamos um momento de grande apreensão em nosso planeta. De repente uma nova doença vinda de porco ameaça a população mundial. Seria o anunciado fim dos tempos? Existe uma tendência de sempre imaginar ou prever o pior em qualquer situação nova. Para piorar o contexto do medo e da insegurança do novo, numerosos especialistas em especulação e oportunistas lançam toneladas de informações desencontradas e sem nenhum embasamento científico em todo tipo de mídia.

Na verdade, esta não é uma doença totalmente nova. Hipócrates, o pai da Medicina, no século V antes de Cristo, relatou casos de uma doença respiratória que em algumas semanas matou muitas pessoas. Várias pandemias de gripe do passado nos ensinaram muito. A mortalidade anual pela gripe sazonal atinge milhares de pessoas em todo o planeta, com complicações principalmente entre idosos, crianças e pessoas com doenças crônicas.

Qual a diferença real entre a gripe suína, gripe sazonal e as pandemias anteriores? Como uma pandemia, vamos compará-la às outras pandemias que vivenciamos no passado. Sabemos que é o mesmo vírus influenza, com diferença apenas de algumas proteínas, mas com comportamentos semelhantes. As formas de transmissão, os sintomas e o grau de adoecimento são os mesmos. Sua letalidade (mortalidade por grupos de pessoas com a doença) aparenta ser bem menor que todos os anteriores até o momento.

Sinto-me na obrigação de chamar a atenção alguns fatos sobre esta gripe em nosso meio. O H1N1 irá continuar entre nós por muito tempo e não serão feriados escolares ou fugas da cidade que irão impedir que 30 a 40% de nossa população seja infectada, como nos mostra seu perfil histórico. Outra informação importante é que mais de 95% das pessoas infectadas por este vírus irão melhorar espontaneamente sem medicação e as 5% restantes poderão complicar e deverão ser tratadas e acompanhadas pelos médicos. Em pandemias a faixa etária dos jovens é a mais acometida e por isto estamos vendo mais gestantes com formas graves, pois apresentam fatores de risco.

Como então evitar pegar esta gripe? O vírus fica vivo por alguns dias em superfícies. Logo, a higienização das mãos, sem dúvida, é a forma mais importante de prevenir esta doença. A transmissão respiratória só ocorre em contatos íntimos ou quando alguém, a um metro de distância de você, solta suas gotículas em tosses ou espirros. Então o uso de máscaras só tem valor para os profissionais de saúde que irão examinar estes pacientes e nas pessoas que estão tossindo, por uma questão de cidadania, evitando a disseminação do vírus em superfícies. O vírus não pula, não voa e nem fica no ar em suspensão. Nossas mãos são os grandes disseminadores deste vírus e não o ar.

A gripe H1N1 predomina entre nós, pois representa 75% das gripes que nos rodeiam no momento. Logo, sem pânico, vamos enfrentá-la com sobriedade e responsabilidade. Qualquer gripe é perigosa — sempre foi. Logo, temos que nos preparar para enfrentar esta e as outras que inevitavelmente aparecerão em nosso meio. Vamos viver uma vida responsável, cuidando de nossa saúde e do nosso corpo com boa alimentação, hidratação e uma regular atividade física. Se você já está com gripe não se assuste, pois há 99% de chance de você melhorar sem nenhuma medicação. Mas caso esteja se sentindo mal e principalmente com falta de ar, febre alta e tosse, procure seu médico e evite ir a um hospital, pois as informações acima poucas pessoas têm e lotam os hospitais desnecessariamente. O seu médico irá avaliar se precisa ou não de algum remédio. Precisamos voltar a nos preocupar com outras doenças que continuam a matar muito mais que a gripe, como doenças cardiovasculares, acidentes de trânsito, neoplasias, desnutrição, diarréias em crianças, doenças pneumocócicas em crianças, tuberculose entre muitas outras. Precisamos voltar a nos preocupar com a corrupção e a irresponsabilidade dos muitos governantes que comandam o destino deste país.

Vamos nos cuidar, brasileiros.   Nélio Artiles Freitas Médico infectologista Diretor da Faculdade de Medicina de Campos

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