Uma matéria do Comunique-se (veja aqui) abordou o não comparecimento do empresário Nelson Tanure em um debate sobre recuperação de empresas de mídia. O empresário alegou imprevistos para faltar ao debate.
No meu ponto de vista, o motivo é mais simples. Como um empresário vai falar sobre recuperação de empresas de mídia se é exatamente o que ele se propõe e não consegue fazer? Só se fosse falar em como não recuperar estas empresas.
O baiano Nelson Tanure despontou no cenário nacional no governo Collor, onde ganhou projeção, dinheiro e nome envolvido em escândalos. Amigo de Zélia Cardoso de Mello, ex-ministra de Economia, foi daquele governo que ele saiu capitalizado para comprar o estaleiro Verolme e começar a criar um pseudo-império.
Tanure sempre foi polêmico no seu modo do gestão, se especializando em problemas trabalhistas, inadimplências planejadas, grandes demandas judiciais e outros métodos nada ortodoxos. O baiano também virou mestre em comprar empresas em decadência, para pegar somente a parte boa delas e deixar os passivos com os antigos controladores.
Utilizando-se deste método, Tanure "comprou" o Jornal do Brasil em 2001. Ele adquiriu na prática somente o título, deixando a parte ruim, como o passivo com fornecedores, governo e empregados para a empresa antiga, praticamente em insolvência. Comprava a marca, sem assumir o passivo.
Se valendo da mesma tática, em 2003 ele "comprou" a Gazeta Mercantil. A Gazeta era então o maior jornal de economia do país, mas já estava em trajetória descendente, em função do surgimento do Valor Econômico (dos grupos Folha de SP e Globo).
Depois, Tanure "adquiriu" a Editora Peixes, em 2007. A editora publicava as revistas Gula, Viver Bem, Fluir, Speak Up e Próxima Viagem, entre outras. Hoje, a Peixes deixou de publicar vários títulos e passa por sérias dificuldades.
Tanure ainda foi "dono" por menos de um ano da CNT. Ele a perdeu por falta de pagamento.
Nenhuma destas empresas foi recuperada por Nelson Tanure. Pelo contrário. Elas tiveram as suas marcas usadas e descredibilizadas, seus conteúdos perderam muita qualidade, não viram os acordos comerciais serem honrados, deixaram os seus funcionários nas mãos de predadores e credores a ver navios.
O que restou do JB e da Gazeta Mercantil hoje?
Este é apenas um exemplo do que acontece com veículos de comunicação que caem nas mãos de aventureiros, como empreiteiros e políticos.