Bispo de Campos lamenta desgaste entre poderes democráticos e animosidade nas redes sociais
29/05/2020 07:48 - Atualizado em 29/05/2020 17:55
Em entrevista na primeira edição do Folha no Ar, da Folha FM 98,3, nesta sexta-feira (29), o bispo titular da Diocese de Campos, Dom Roberto Francisco Ferrería Paz, comentou as críticas públicas recentes feitas por ele às ameaças do presidente Jair Bolsonaro contra a democracia, como também as que recebeu nas redes sociais após se posicionar. Para Dom Roberto, a animosidade em discursos do próprio presidente, refletida na parte mais raivosa de seus eleitores, é prejudicial à democracia e ao combate da pandemia do novo coronavírus.
— Há um processo de desgaste entre os poderes. Houve a crise do modelo político chamado presidencialismo de coalisão. Na divisão horizontal de poderes, é muito difícil respeitar as independências quando não se tem diálogo, quando não há consenso. Está se perdendo essa atitude cívica do diálogo entre os poderes. Isso fragiliza a democracia num momento crucial. Quando nós esperamos por parte do governo, da parte dos poderes, uma aliança para vencer a pandemia, encontramos uma crise cada vez maior, com ameaças — afirmou.
No final de fevereiro, Dom Roberto afirmou que "Deus sabe do Brasil de volta à barbárie e à cultura da morte!", conforme publicado pelo blog Opiniões, do jornalista Aluysio Abreu Barbosa, hospedado no Folha1. Também já havia feito críticas à reunião ministerial de 22 de abril, que teve vídeo divulgado após autorização do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). De crítico, passou a criticado pelos bolsonaristas na internet.
— Existe, nas redes sociais, um clima de raiva e patrulhamento. Não se houve o que a pessoa diz, já se ataca. (A pessoa) já está prejulgada que é comunista, é inimigo. Isso não possibilita um diálogo sereno. A própria política existe porque há pensamentos divergentes e diferentes. Senão, não precisaríamos de uma política. A democracia precisa do debate como um ar que respira, e o debate precisa de respeito — declarou na entrevista.
O bispo falou ainda sobre o inquérito que investiga ameaças de mortes sofridas por ministros do STF:
— O que me preocupa é a repercussão (das ameaças). Estamos num clima de polarização e radicalização. E há pessoas que interpretam isso, que pode ser um grande exagero verbal, um terrorismo verbal, como uma ordem a ser executado. Isso traz a violência, traz assassinatos. Me preocupa.
Na temática religiosa, Dom Roberto demonstrou estar satisfeito com a participação da comunidade católica nas missas transmitidas pela internet durante a quarentena. Falou ainda sobre ações que tem realizado de forma a se aproximar dos fieis com acompanhamento espiritual.
— (A participação) tem sido muito viva. E até tem superado as expectativas. As missas transmitidas às vezes alcançam muito mais do que as presenciais: mil, 2 mil (pessoas). E também, não é só um único canal. Eu nunca tinha tempo de parabenizar a cada aniversariante das comunidades. Agora, gasto mais ou menos uma hora só para entrar em contato com pessoas idosas, pessoas passando momentos de melancolia, que estão com depressão.Então, eu pego o meu WhatsApp e telefono. Isso é importante, porque sou sacerdote e devo consolar. A Pastoral da Consolação é fundamental nesse momento. Há muitos canais em que a gente pode se tornar presentes. Claro que às vezes são virtuais, mas às vezes a gente visita também, mantendo, claro, os protocolos sanitários — afirmou.
Confira a entrevista completa:

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