Aluísio Machado recebe o Troféu Folha Seca
Matheus Berriel 06/11/2019 14:48 - Atualizado em 16/10/2022 10:33
Foto: Rodrigo Silveira
Minha paixão é samba, é música. Não tenho outra paixão, a não ser um ‘galetinho’ que aparece de vez em quando. Aí eu fico feliz”. A fala é do compositor Aluísio Machado, cobra criada do Império Serrano que, no auge de seus 80 anos, ainda deixa transparecer o lado galanteador e, por meio dos passos de dança no palco, demonstra ao público ter ainda a juventude de um menino. O mesmo nascido debaixo de uma árvore em Guarus, no dia 13 de abril de 1939, e que na última terça-feira (05) foi homenageado no Teatro Municipal Trianon com o Troféu Folha Seca, destinado a campistas de sucesso nacional e internacional em suas áreas.
— É marcante. Eu agradeço toda a logística do jornal Folha da Manhã. Fico muito feliz, porque ser lembrado em vida é muito importante e gratificante — disse Aluísio.
O documentário exibido antes da entrega do troféu remeteu a outros Carnavais, como o carioca de 1982, marcado pelo inesquecível “Bum-bum paticumbum prugurundum” que embalou o Império ao seu último título no Grupo Especial. Mais conhecido de todos, o samba é um dos 14 assinados por Aluísio Machado a ser escolhido na escola da Serrinha, dos quais seis valeram-lhe o tradicional Estandarte de Ouro, oferecido pelo jornal O Globo.
Durante entrevista antes de receber o Troféu Folha Seca, o Cidadão Samba do Rio em 2014 também citou “Eu quero” (1986) e “E verás que um filho teu não foge à luta” (1996) como outras composições marcantes em sua carreira. A lista de sambas-enredos vencedores acaba de ser atualizada com “Lugar de mulher é onde ela quiser”, este feito em parceria com Lucas Donato, Senna, Matheus Machado, Luiz Henrique, Thiago Bahiano, Beto BR, Rafael Prates e Renan Diniz para o desfile de 2020 na Série A (grupo de acesso).
Outra emoção reservada para fevereiro próximo é a homenagem que receberá da Unidos da Barra da Tijuca, escola afilhada do Império Serrano que competirá na Série E, na Intendente Magalhães, com o enredo “Obrigado meu Deus! Aluísio Machado — A vida e a arte de um baluarte”.
— Esse ano eu ganhei o samba lá. Ganhei em um ano, e no outro já sou enredo. Vai ter menção a Campos no samba. Não sei se eles vão colocar em alegoria, alguma coisa. Porque eu nasci embaixo de uma árvore em Guarus. Então, dei essa ideia para eles, não sei se vão usar. Foi a árvore que deu frutos. Não sei se o carnavalesco vai absolver isso — comentou o homenageado.
Até o desfile chegar, o veterano de Sapucaí segue tomando os devidos cuidados com a saúde, o que ajuda a explicar sua energia.
— Faço academia e não bebo há 10 anos. Quando eu canto, meu corpo canta comigo. Em toda música que canto, eu tenho um gestual que faço com o corpo. Por isso também eu gosto... Sou sambista, já entro no show dançando. Isso agrada muito às pessoas — disse Aluísio. — Há 10 anos eu bebia, mas veio a diabetes. Aí evitei, nem refrigerante eu bebo. Só água ou um suco natural. Por isso estou com 80, vou ver se faço 81, não é? — brincou.
No Império Serrano, mais vitorioso que Aluísio Machado, apenas o saudoso Silas de Oliveira, seu ídolo de infância, considerado por muitos o maior compositor de sambas-enredos da história.
— Minha referência foi Silas de Oliveira. Beto Sem Braço veio depois, porque ele nem era Império, era da Vila Isabel. Eu, moleque, já acompanhava Silas de Oliveira. E aí comecei a absorver. Não que ele me ensinou. Nunca fiz nada com ele, ele nunca fez nada comigo. Mas, na admiração, a gente começa a absorver. Sabe o fã? O cara às vezes é fã do Garrincha, do Pelé, aí a criança começa a absorver e a fazer igual. Foi assim. O Silas nunca me ensinou nada, mas comecei a absorver as coisas dele. Mais aquele lado de protesto. Porque ele já era de dar “catucada em governo”, na direção do país, haja vista que uns três sambas-enredos dele foram parar no Itamaraty — enfatizou Aluísio
Foto: Rodrigo Silveira
O fã de Silas de Oliveira é hoje uma referência e também admirador de outro ícone da ala de compositores imperiana, com quem destacou a parceria em “Jorge Amado — Axé Brasil” (1989):
— O Beto Sem Braço me apresentou o Arlindo (Cruz), que entrou para o Império Serrano com a minha anuência. E depois que ele entrou, o samba ficou mais nervoso. O cara é bom de harmonia para caramba.
Com tantos sambas na avenida, fica difícil para Aluísio listar todos os preferidos. Pois ele deu um jeito de valorizar sua obra sem deixar nenhuma de fora. “É o seguinte: filho meu não é feio. São 14. Uns aparecem mais que os outros”, enfatizou.

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